Amanhã, quinta-feira, chega ao fim o
ciclo de cinema que o Lucky Star levou a cabo em parceria com os
Encontros da Imagem de Braga, sob o belíssimo tema, passe a redundância, “O
belo e a consolação”.
E nada melhor para o fechar do que um
filme que abre para todos os tempos e para todos os espaços do belo
e da consolação, uma beleza abundante e cava, uma consolação
pedregosa e límpida, transpondo com a sua poesia silenciosa e
selvagem as fronteiras do conhecido e do esperado de tais conceitos
bem como as margens do próprio cinema.
Helénico e apátrida, iluminado pela
jorrante seiva da fonte primordial ou pela catadura da noite das
noites, galopando as agruras do meio do caminho em precisos rituais
perdidos e brilhando no Cântico dos Cânticos, trata-se do melhor
filme que vi este ano, desses que se vão decifrando lentamente a
cada nova visão até se ficar cego, desenterrando incontáveis
chaves e tocando nos fogachos do discreto sublime.
Prodígio da manufactura e passo
lapidar da assunção do cineasta-sapateiro-remendeiro, reinvenção
do filme na primeira pessoa sonhado por românticos visionários como
François Truffaut e Jean Eustache, independente das leis artísticas
em voga e dependente dos afectos e da amizade, o realizador Mário
Fernandes estará em Braga para conversar connosco sobre tudo isto e
mais além, o que é por si só um acontecimento.
Aproveito ainda para agradecer ao
director dos Encontros da Imagem, o empenhado e sensível Carlos
Fontes, que espero continue por muitos anos nestas lides.
O Cinema e Braga vivem.
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