sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

extra shot II


Exemplos práticos:

- Autorismo: “J. Edgar” pode não ter a depuração e o humanismo esventrado de “Mystic River” (nem essa ambiguidade terminal, essa "pequena" guerra imensamente mais pecaminosa e desonesta do que a de Sniper, o horror calado do gesto final entre Kevin Bacon e Sean Penn) ou de tantos tantos outros, mas o carinho final só tem paralelo em Borzage. Assim como o poder de sugestão é mais radical e potente do que o de qualquer contemporâneo que diz mandar às urtigas as regras e a História e a moral - a liberdade tonta de pacotilha que incendeia os festivais e as canetas excitadas que gritam ter descoberto a pólvora. O “Jersey Boys” respira leveza, diversão e os personagens até falam para o espectador; mas então, dito isto e visto isso, em que gaveta podemos encaixar o “último dos clássicos”?

- Confiança: tenho confiança no coração de Clint (mesmo quando mata por amor a Million Dollar Baby) e na sua incorruptibilidade; confiança extrema na dedicação de Pedro Costa a um povo e a uma herança; desconfio das masturbações abjectas de Lars Von Trier ou das metafisicas balofas de um Joaquim Sapinho – sem ser preciso retórica para explicar o que é evidente na tela e a suja. 

- Fidelidade: irei sempre ver os dois primeiros tipos citados no ponto acima, como irei a uma cinemateca ou ao barraco de um perfeito desconhecido que não queira impingir ou vender nada; nunca irei ver o “Mommy” do Xavier Dolan depois de ter aguentado o trailer mais baixo e nojento para com as distâncias ao Humano a que o Cinema tem de se sujeitar. 

- Partidarismo, mestres e lendas: tal como a confiança e a fidelidade aniquilam a falsa questão do autorismo, a cada qual se reserva o direito ao erro e à contradição natural; jamais à indesculpável traição e mercenarismo calculado, lixar o próximo, filhadaputice. 

- Progressão na carreira: Religiosidade, trilho para o Sagrado (acreditar no que se faz: no que se filma como no pão que vai ao forno) ou NADA.
 

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