terça-feira, 13 de maio de 2008

...my blade without runner II


Por um lado – o lado «ficção científica» que vem de Bradbury – é um filme singularmente premonitório, dado que cada vez mais o mundo da cidade de Montag e dos iletrados audiovisuais é o mundo nosso. Não, ainda não se queimam livros e provavelmente, ao contrário do tempo de Hitler, não se voltarão a queimar, porque o mal já não reside neles. Mas são tão minoritários como em Fahrenheit (e cada vez o serão mais) os que amam os livros como os resistentes deste filme o amam. E são igualmente minoritários os que são capazes de amar o cinema com o inocente e deslumbrado olhar com que Truffaut o olhou. A «grande engrenagem da minha vida», «os meus amores gémeos» (filmes-livros, livros-filmes») de que a vida são hoje engrenagem? Onde estão os que são capazes de os citar como Truffaut os citou? Citou livros (e nos autos-de-fé do filme figuram todos os que o realizador amou) mas também citou Hitchcok (a cantilena da escola, a casa do Psycho trancada), Nicholas Ray (o candeeiro do Johnny Guitar), Dreyer (a Joana d`Arc), Murnau (a passagem da ponte). «Retomei os telefones de Griffith, os factos de Carole Lombard e de Debbie Reynolds, o carro de bombeiros de Mr. Deeds Goês To Town (…) Ter o direito de citar os títulos e os autores que quiser. Haverá tantas citações no Fahrenheit 451como nos onze filmes de Godard juntos.»

João Bénard da Costa

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