sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Quando algum dia tiver que me demitir de um emprego, que seja por motivos semelhantes aos de Jack Lemmon em “The Apartment”. Pela mesma dignidade daquele homem e, factor tão importante, por uma Shirley MacLaine qualquer. Aquele homem, que por um misto de distracção, bondade e estupidez se viu no topo daquela empresa assustadora, plantada no centro de New York. E, praticamente pelos mesmos motivos, se apaixonou pela rapariga dos elevadores e ela por ele. Como se sabe, acabaram os dois a jogar às cartas no final de mais um ano. Isto e ainda mais, e, se calhar acima de tudo, muita verdade e muita inteireza, naquele mundo podre e maquinal.

Que filme! Que filmão! Uma coisa inteligentíssima, incatalogável, uma daquelas graciosidades que jamais a Hollywood de hoje produziria. Nem acho que seja uma comédia, pelo menos eu não me ri por aí além, aquilo comove-me mais do que me puxa ao riso. É acima de tudo um daqueles contos americanos, mas universais, claro, de um cinismo e de uma negrura avassaladoras, com um revestimento e um fundo que descentra a coisa de qualquer obviedade e torna o filme inocente, apaixonante. Nem é preciso estar para aqui a dissertar sobre o génio visual e rítmico de Billy Wilder, são um milagre aquelas escalas e o modo como põe as personagens sozinhas e solitárias na grande cidade. O ritmo é algo que nasce, de um argumento bem esgalhado, é verdade, mas acima de tudo de um domínio do plano e da sua tensão interna, que é de mestre. E como estes homens sabiam montar um filme…Fluição, é isso. Estou embasbacado, e o Lemmon é um dos maiores de sempre, na boa…

Por mim dispenso perfeitamente o Woddy Allen (exeptuando certas coisas, evidentemente). Dispenso ainda mais, muito mais, o Alexander Payne, lembro-me de certa revista ter escrito que Wilder tinha encontrado sucessor. AHAHAH…