quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

filmar em portugal, II

Finalmente uma facção das gentes do audiovisual em Portugal – aquelas da televisão e da publicidade – parecem ter conseguido concretizar um dos seus objectivos máximos: uniformizar de tal modo as mercadorias que produzem para as salas (já não de Cinema mas do que lá lhe puserem, qualquer lixo passa por cinema) para assim elidirem qualquer noção de autoria, qualquer visão minimamente singular. O triunfo das convenções e dos técnicos/especialistas de mercado – os mesmos que fazem os estudos de mercado, à cata do que o pessoal quer, também escrevem o argumento; os que conseguem um restaurante de luxo para a equipa técnica e o elenco comer/ou os que arranjam umas garrafas de vinho tinto para os produtores e os poderosos beberem durante um qualquer jogo da bola, enquanto o operador de câmara filma os planos, são exactamente os mesmos que começam e acabam a montagem do “produto audiovisual”, em uma ou duas semanas. Muito hip-hop, muita mulher nua, muita ordinarice e zero de tempos mortos e… temos uma montagem perfeitamente formatada para o “povão” comer. Palha para os burros, perdoem-me a expressão e perdoem-me os burros.

Voltando à razão deste post: quem é Carlos Coelho da Silva? É que acho que ainda não passei os olhos numa critica que referisse o nome dele, afinal e apesar de tudo, o realizador creditado. Então: quem é o realizador deste filme? Não o será C.C.S, afinal ainda não vi uma única referência ao seu nome num telejornal ou numa discussão qualquer. Mais depressa serão – tenho a certeza – o produtor e o batalhão de analistas de mercado, directores de markting, etc., os realizadores e os inventores do final cut, do que o sujeito que também assinou esse êxito do audiovisual mundial, “O Crime do Padre Amaro”.

Estão prestes a conseguir, estão prestes a lixar tudo, basta ver aquele homem que tramou o João Botelho (quem o mandou meter-se com essa gente?) – outro grande realizador esse Valente – e constatar que o que importa é não levantar ondas, e, acima de tudo, apagar qualquer traço de autorismo ou de intelecto. Objectivos: muito público, muito dinheiro, muitas festas. Isso tudo e a promoção/celebração da azelhice, uma espécie de studio system mas sem redenção possível, sem salvação. É essa também a cruzada do realizador Vieira. Parece que ainda não o apanharam e parece que têm mais 2 ou 3 projectos em carteira. Convençam-se: nesse mundo não há realizadores.

Lixaram tudo, mas, já dizia o outro, a juventude têm sede de sangue. (espero eu)

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