sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Continuo a pensar o mesmo, sabendo que existe um filme de Tourneur. A minha dúvida é: “Out of the Past” é ou não é um film-noir? Todos os livros da especialidade, e todos os especialistas, dizem que, de facto, é, mas…
Tenho para mim que é mais um filme fantástico e insondável – como “Cat People”, “I Walked with a Zombie”, “Night of the Demon”, etc. – do que um noir, apesar de todos os signos, iconografia, predestinação, fumarada, etc.
Repare-se numa cena, a que eu acho mais fabulosa, perto do final, quando Robert Mitchum se encontra, secretamente, com Virginia Huston, na floresta. Por momentos estamos absolutamente no universo lânguido, escorregadio e do outro mundo, onde permanecemos quase sempre no “I Walked with a Zombie”. É uma cena directamente saída desse filme de 1943, com todas essas sensações e com todas as luzes e sombras a trabalharem e a moldarem-se da mesma forma. O molhado, o molhado, húmido…

Mas num filme tão rocambolesco e tão cheio de enigmas (exteriores e interiores) reconheço-me mais dentro desses universos ocultos do que num qualquer noir puríssimo, que é o que todos os compêndios apontam para este filme. Ah, ainda aquela cena da casa, quando Mitchum e Jane Greer combinam pirar-se e enganar o pessoal todo. Aqueles recortes e aquela panorâmica para a porta aberta não enganam, o que está da parte de fora muito menos…

Raymond Chandler esotérico (se é que ele também não o foi muitas vezes…)? Foi o que me ocorreu num determinado instante.

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