sábado, 6 de dezembro de 2008

Amor de Perdição
1979

De Amor de Perdição passou para a posteridade a reputação de escândalo que rodeou a apresentação pública do filme em episódios na RTP, desfocando totalmente – e, em certo sentido, adiando – a percepção da sua enorme singularidade (que só chegaria a Portugal através, vergonhosamente, da imprensa estrangeira). Por cá, raríssimos foram os que tiveram, à altura, o discernimento suficiente para perceber até que ponto estava «fora do mundo» esta fidelíssima adaptação do romance de Camilo Castelo Branco e de como, através dela, a palavra portuguesa tomava conta do cinema português. Retrato autêntico dos amores proibidos de Simão e Teresa, tal como devolvidos pela escrita de Camilo, o filme dava-se como rigoroso «equivalente» da literatura (e da sua leitura), enquanto da humildade da película de 16 mm, com que o filme foi feito, nascia uma cultura do plano de conjunto milimetricamente organizado e composto e de uma extrema densidade, coerência e exigência.

J.M.G

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