quarta-feira, 26 de março de 2008

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Não gostava nada do cinema de Haggis, acho Crash uma coisa asquerosa, prepotente, black and white. Mais do que isso, uma triste cópia do cinema do cinema que Paul Thomas Anderson reinventou e elevou a partir dos mosaicos de Robert Altman.
Acho que nem como escritor se safava, e se considero os filmes de guerra de Eastwood Obras-Primas, acho que tudo se deve ao cineasta e que na mão do próprio Haggis a película não passaria de pastelão académico, peganhoso.
Daí que In The Valley of Elah seja uma enorme surpresa, nada de obra-prima evidentemente, mas acho que tem uma coisa extraordinária, outra excelente e uma muito boa.
É Tommy Lee Jones o elemento extraordinário, animal ultra contido, ferido letalmente, homem com uma única obsessão. Mas tudo nele é para dentro apesar de parecer sempre prestes a explodir, e em certos nacos explode mesmo, mas sem resquício de excesso, de malvadez…é o homem que já conhece a vida, os seus segredos e zonas escuras e que daí sustente os seus passos seguramente.
A coisa excelente é o domínio da duração dos planos que compõe o filme, são de uma justeza e de uma exactidão extrema, respeitando todos os tempos e ritmos do factor humano e assim elevando as dramaturgias – próximo de uma respiração vital, afastando-se da respiração cinematográfica convencional.
O muito bom é decorrente do excelente, ou seja, é uma linha recta, seco e despojado, sem os truquezinhos de Crash e as espertezas pós modernas dos novos argumentistazinhos tipo Arriaga ou Jonze, ou…
E não acho que aja qualquer maniqueísmo ou simplismo de panfleto, como disse – um homem e uma coisa que ele tem que saber.
Tudo isto e uma poética suave, bem como Theron umas 1000 vezes melhor que no papel do Óscar, caem bem e são antídotos ás coisas de Emmerich, por exemplo.

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