quarta-feira, 12 de março de 2008

simplicidade

Há muito que o Senhor Oliveira atingiu o patamar da sublime simplicidade. Ao contrário dos bem pensantes é tudo perfeitamente simples e cristalino.
Mesmo que eu considere Cristóvão Colombo – O Enigma, precisamente, um filme narrativamente enigmático.
Sim, no fundo é complexo, nas teias interrelacionadas entre os continentes, entre os lugares, na História, bem como aquela fabulosa personagem de capa e espada que só acentua ainda mais os enigmas.

Por isto mesmo o filme é relativamente construído em oposição ao anterior, Espelho Mágico, oposto àquela transcendência, ou seja, Oliveira recupera aqui a pedagogia apaziguada de Um Filme Falado.
Mas pensemos em todos os filmes e fiquemo-nos por uma evidência: a simplicidade com que o Senhor Oliveira desenha o seus filme. É o traço, o elo ligador entre todos eles.Neste aspecto todos são, então, transcendentes.

Sim só vou falar em enquadramentos e durações, pois é aí que todos estes filmes acontecem – o Senhor Oliveira como o mais furioso cultor das especificidades do cinema.
E é ver a personagem de Trepa e do seu irmão contra o fundo, o Céu Fordiano; A ambiência de filme de aventuras, no barco (aí aqueles castanhos, aquelas temperaturas); a maneira como a câmara percorre e castra os percursos (quase personagem do filme, a estrada); ou o mar como elo aglutinador da fugidez da história.

E o mais importante; o nevoeiro: fundamental e das coisas mais essenciais e mágicas que o Senhor Oliveira já filmou, apanhando assim uma New York difusa, telúrica, resolvendo de uma machada a problemática: meios de produção/matéria a ser recolhida; e sim, desde Carpenter que o nevoeiro não assumia função tão decisiva aos propósitos e aos enigmas.

Peça atmosférica impressionante que se reverte já com o par Oliveira e sua Mulher de regresso à América: prodígio absoluto da arte de enquadrar e decupar – aquele contra-picadissimo sobre o arranha-céus é o elo impossivél entre Spike Lee e Oliveira; entre o hieratismo e a fúria; tal como os enigmas que se perdem entre o grande oceano.
E o que diferença todo este tour de force de angulação do publicitários televisivos? A duração imprimida por Oliveira, precisamente.

E para acabar, a forma como este par se expõe é inadjectivavél e as palavras não chegam.

Grandioso para dizer muito pouco.

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