domingo, 9 de março de 2008

o fogo central do cinema

É tudo isto e muito mais. É a fabulosa cena da fuga na praia, aquelas ondas, aquele mar. É a caravana que volta para trás no mais magnífico dos cenários que o cinema já construiu.
É o maravilhamento/fascínio do jovem Whiteley para com o Barba ruiva.
A elegância pasmosa de Stewart Granger, aquele jogo de gato e de rato com os guardas, as capas e as espadas como em Flyyn.
Os mistérios absolutamente insondáveis, sendo o maior deles a relação entre o miúdo e Granger. São as elipses perfeitas. É o filme conduzido do ponto de vista do miúdo.

É o scope inimitável – que lang detestava – no máximo do seu poder, as cores no mais puro deslumbramento, estas sim, também queimam.

E é a prova cabal que a fase americana de Lang é tão fascinante ou melhor do que a fase Alemã.
Como esquecer este filme, "Man Hunt", "The Secret Beyond The Door", "Ministry of fear" ou o fabulosi "Beyond a reasonable doubte", "Rancho Notorious", ou o meu favorito: "The big heat".

Para mim, tão importante e fundamental como Hitchcock, na dureza das formas, na dualidade culpa/medo/desejo, etc…
Fundamental, e só poderia finalizar com Jean Douchet e Bénard da Costa:

«Desde o genérico, que nos são dadas a dinâmica e a respiração de "Moonfleet". Surge uma onda num penhasco, enrola-se e depois desfaz-se contra as rochas, e dela apenas resta um turbilhão de espuma. No segundo, terceiro, quarto planos, etc, as ondas sucedem-se, sobrepõem-se, plenas de uma violência contida, por se desfazerem, enfim, com furor. Por que razões estes planos do mar e das ondas são os mais belos alguma vez filmados? Mistério inexplicável da arte, excepto se admitirmos que o olhar do poeta pode penetrar o mundo tão intensamente que torna magnífico tudo o que vê. A poesia reside na verdade e no conhecimento.»

Jean Douchet, Cahiers du Cinema, Maio 1960
«Com "Moonfleet" atingimos um dos pontos mais altos da obra de Fritz Lang. Uma das obras mais deslumbrantemente belas alguma vez filmadas, um dos filmes mais fascinantes e mágicos da história do cinema. "Moonfleet", como escreveu Benoit Jacquot quando o filme foi reposto em Paris, em 1981, "é o fogo central do cinema".»

J.B.C., Fichas Cinemateca Portuguesa e Fundação Calouste Gulbenkian

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