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-''Mal visto, mal falado''.
Como não tenho dúvidas que é neste fabuloso longo plano – reparem na data do filme, reparem – que, como disse um colega meu, Straub se apaixonou…é neste plano que vivem os planos de Costa (nas barracas ou fora delas), apaixonando-se também…um plano que em plena euforia da Nouvelle Vague já lhe indicaria um rumo. É preciso ver sempre este plano.
É esta a ordem de peso presente na banalíssima e tão fundamental conversa há beira-rio e entre dois charutos que a vida vive e que o cinema se salva. Questão de raccords.
Só hoje me pude deslocar ao cinema para ver um filme que muito ansiava, de um dos grandes cineasta vivos: George A. Romero.
Diary of the Dead é um grande filme, um fabuloso filme.
É, primeiro de tudo, o anti-Rec, aqui o dispositivo e a matéria de fundo juntam-se em estado de graça.
Grande filme parábola sobre o estado das coisas e das acções/anseios dos homens; grande metáfora/denuncia/autópsia sobre o killer instint desta nossa raça, e grande filme acerca– só comparável a Redacted, de Brian de Palma – da verdade e a manipulação de todas as imagens e de todos os signos, dando ainda umas potentes alfinetadas ás instituições (ás de cinema, principalmente) e ao desejo, tão inocente e infantil, da possessão e durabilidade de todas as coisas.
Mise en scene sóbria, cientifica, radical e sem nunca se pôr em bicos de pés, Romero nunca por nunca moraliza ou espetaculariza os eventos – é o mais justo e caustico dos filmes.
Sobre o mundo e sobre as imagens, sobre a realidade e sobre a manipulação. Sobre o novo e o velho.
...ou o formalismo que logo se dilui.
The Man Who Knew Too Much, Alfred Hitchcock, 1956