Compreende-se mal como tanta gente vai reduzindo World Trade Center, de Oliver Stone, a uma simples litania nacionalista embrulhada no aparato colossal dos acontecimentos do 11 de Setembro. No soberbo filme de Stone – um dos grandes filmes que o cinema americano produziu nos últimos anos -, o atentado, propriamente dito, é uma sombra (plano magnífico e emblemático da sombra do avião sobre os prédios da Broadway).
É uma maneira clara de dizer que o filme não é sobre isso (como o tentou ser United 93, de Paul Greengrass, ou as incontáveis mini-séries televisivas sobre o assunto), mas sobre o que isso expõe: a condição insular de uma América concentracionária, cada vez mais isolada e incompreensível para o mundo (vejam-se os planos de aproximação de Manhattan, a partir do ferry de Staten Island).
Sobre essa perplexidade, Oliver Stone construiu um filme de uma simplicidade terrível, que se passa metade debaixo da terra, e onde a alegoria se funde com uma imagem intensamente realista, exigindo dos estúdios uma correcção tecnológica impressionante para servir um propósito que se diria “menor”: a continuidade visual conseguida a partir de imagens de proveniência muito heterogénea, um procedimento em tudo semelhante ao seguido em JFK, filme que forma, com World Trade Center, um díptico incontornável sobre a história recente americana.
João Mário Grilo (agradecido)
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