sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A máscara da morte branca

A meio caminho do Grande Guinol e do documento clínico, situa-se esta obra de um dos grandes poetas do ecrã.

Se existe no cinema francês uma tradição bem marcada pelo fantástico, de Méliès a Cocteau, não podemos deixar de citar Georges Franju no rol dos grandes autores desse género. «É o único realizador insólito desse tempo», dizia a seu respeito Henri Langlois (a quem se juntou para fundar a Cinemateca Francesa). Os filmes de Franju (1942-1987), são bastante insólitos, estranhos e angustiantes mas distinguem-se também por um rigor de escrita, uma fluidez narrativa, um apego ao cenário e aos objectos, que encontraram primeiramente o seu campo de expressão natural no documentário.

Estreando-se na longa-metragem em 1958, Franju nada perderá desta acuidade de olhar, ligada a um forte temperamento de visionário. Todos os seus filmes têm, como ele próprio afirma, «o mistério, o fascínio, a profundidade de um buraco negro».
O seu melhor filme continua sem dúvida a ser este Les Yeux sans Visage, em que o realizador parece imitar à partida um filme expressionista alemão qualquer para nos fazer cair de repente no realismo mais glacial.

O que na verdade mais choca neste filme não são os médicos sádicos, os subterrâneos obscuros ou os cemitérios profanados; mas uma enfermeira negra a entrar na sala da morgue, os bisturis rasgando uma ferida, a necrose de um enxerto de carne humana. Complacência alguma no terror, mas uma condensação da forma, próxima da catalepsia.


* Eugen Schufftan

A magia de Les Yeux sans Visage deve muito ao trabalho do chefe de câmara Eugen Schuffman (1893-1977), um dos grandes mestres do «preto e branco». Colaborou com cineastas diversos como Fritz Lang (Metropólis), Marcel Carne (Cais das Brumas), Mas Ophuls (Werther, Piedosa Mentira), Douglas Sirk (Tempestade de Verão) Robert Rossen (A Vida é um Jogo, Lilith e o seu Destino), etc.


Claude Beylie

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