quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A Arte de Amar


Recordação de um bocado de uma tarde bem passada com o Mário (que meteu a "bucha" do Buñuel), a Rita (que desbloqueou o francês e a conversa, com classe) e o gigantesco Jean Douchet.
Jean Douchet, o homem que tinha visto tantas vezes nas telas e em fotografias ao lado de um dos meus ídolos da cinefilia e logo da destruição da cinefilia, outro Jean, o Eustache.
Mas Douchet é a cinefilia.
Tão bigger than life, tão intimidador, e tão generoso.
O meu agradecimento pelo privilégio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Walt Whitman...



Talvez seja pela beleza do swing de Joe Dimmagio ou pela beleza plástica de qualquer movimento de Ted Williams ("The Kid") - beleza que me espantou como qualquer sublime obra de arte - descoberta no monumental documentário de Ken Burns dedicado ao Baseball, que me interesso tanto por esse tão estranho desporto, estranho para nós futeboleiros.
Ou por causa de filmes do Ford, do Naruse ou até dos fundos de certos planos do Altman, entre milhares... mas o mais certo é o culpado se chamar John Fante.
Ou então serão os retratos do Francis Leroy Stewart (com este aqui em baixo) ou da Dorothea Lange.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Manuel Mozos no LUCKY STAR - Cineclube de Braga


Caros amigos,

Os nossos próximos meses vão ser dedicados a uma das figuras mais fascinantes e singulares das últimas décadas do cinema português: Manuel Mozos. Produto da escola Superior de Teatro e Cinema da Lisboa dos anos 80, teve como professores homens da cepa de João Bénard da Costa, António Reis, Luís Miguel Cintra ou Paulo Rocha; dessas gerações de estudantes fazem parte nomes hoje muito conhecidos e de basta obra como Pedro Costa ou Teresa Vilaverde, bem como realizadores de uma só oportunidade ou quase, os esquecidos Daniel Del Negro, João Guerra, entre outros, para não falarmos dos desistentes. Muito influenciado por esses “mestres”, muito influenciado pelo Fernando Lopes de Belarmino, pelo cinema clássico americano e por modernos italianos como Valerio Zurlinni, propomos mostrar todas as facetas de um percurso que passou por períodos acidentados mas que, analisado hoje, foi e continua a ser bastante produtivo, heterogéneo e inclassificável, prometendo uma aventura extraordinária pela matéria principal que constitui o seu tema: a vida, a vida pulsante ela mesma.

De início pensamos chamar ao ciclo “Integral Manuel Mozos e mais além”, isto pois desafiámos Mozos a desempoeirar as suas arcas soterradas e a forçar os seus relicários sagrados ou profanos onde utopias transmutadas dos sonhos e dos pesadelos do celulóide jazem noutros formatos como o VHS ou o DVD, para os projetar assim mesmo, sem restauros nem manipulações outras, na nossa sala de cinema. Depois de um longo processo de perseguição e de mapeamento dos materiais, tal não será possível na totalidade, mas a um nível bastante completo, permitindo-nos anunciar a mais completa retrospetiva de Mozos realizada até hoje. Teremos, por exemplo, o director's cut de uma obra maior como Xavier, documentários muito pouco vistos, destacando-se essa homenagem a Amália Rodrigues a que o autor chamou Diva: Simplesmente Uma Homenagem, entre vários momentos e episódios da sua entrega fulgurante à historiografia do cinema português, começando pelos Os Tristes Anos (1945-1960), ou mesmo surpresas escondidas que só revelaremos na hora.

Deste modo, iremos mais ao fundo de uma potência vital e romanesca raras vezes assim trabalhada no nosso cinema, bem como a um interesse documental pelo que está prestes a desaparecer e pelos anacronismos mais diversos. E constataremos mais nitidamente como as ficções nos permitirão conhecer daqui a muitos anos os usos e costumes do que foi uma certa sociedade e um certo tempo português, tanto como os documentários ou as suas montagens (a partir de filmes, de atualidades ou de registos anónimos) estão possuídos de indomável féerie e da mais pura invenção. Também um modo de comoção pelo que o cinema normalmente deixa de lado por não ser espetacular, das personagens solitárias aos espaços fantasmáticos, ou um modo de contrabando e de pirataria de imagens e de sons desprezados que justifica que muitas das cópias que apresentaremos não estejam nas condições perfeitas, visto que algumas delas são apenas possibilidades ou alternativas de montagens que acabaram por não vingar, e outras a única oportunidade de mostrarmos autênticas raridades.

Mas o próprio Manuel Mozos estará connosco numa das sessões vindouras para nos explicar tudo isto e para conversar sobre os seus filmes. O nosso muito obrigado a ele. Vamos aproveitar.

(JO)