- «Anda
daí dar uma volta.» - é a lição de vida que J.S.M me deu no
seu magnífico texto sobre o Rio Bravo para um catálogo da Cinemateca
Portuguesa. Muitos anos depois, na apresentação do seu filme Passagem ou a
Meio Caminho, igualmente na Cinemateca, respondeu a um crítico que se
desfazia em elogios que se o John Wayne visse esse seu «filme lamechas»
lhe daria um soco, e que seria bem dado.
- Algures em 2016 eu e o João Palhares
fizemos sem dinheiro e com uma sandes no bolso a Nacional 14 que vai de
Braga ao Porto para tentar sacar de J.S.M um depoimento sobre um dos seus
filmes mais belos, o Some Came Running do Vincente Minnelli.
Fizemos tudo certo, como um relógio suíço, mas quando ele saiu pela porta
lateral do Teatro Nacional São João, pareceu-nos ver um mito, um Wayne
mais delicado e com a graça dos deuses, e não conseguimos abrir a boca,
regressando a Bracara Augusta humilhados de nós mesmos.
- Com a ajuda do José Marmeleira conseguimos meses
mais tarde marcar um encontro com o J.S.M nos Artistas Unidos, numa manhã
radiante. Lá fomos, o Palhares, a Marta Ramos e eu; perdemos logo a
vergonha quando ele veio em direção a nós, a gritar «Minnelli!, então é
para falar de Minnelli... viva Minnelli!». E logo percebemos
que a nossa projetada divindade era um tipo porreiro daqueles que
costumávamos encontrar em tascas e bares noturnos nas perdidas
deambulações ao deus-dará desses anos... um tipo completamente disponível,
humilde e com uma candura semelhante aos deuses, também não estávamos
muito enganados... deu-nos o vídeo que vos deixo, que como sempre, e essa
era a sua marca, ficou lacónico como Hawks e Wayne e poético como um
Pavese, um Ruy belo...