domingo, 10 de julho de 2011

Há um mal-entendido sobre o cinema. Digo: no coração mesmo da elite que faz profissão de elaborar ou de compreender a arte. Uma extrema confusão preside seus julgamentos e seus trabalhos. Uma falta de abertura inclina uns a considerar o cinema como um divertimento menor que abandonamos rapidamente para retornar às coisas sérias, tais como a literatura. Uma falha de exigência incita outros a povoar seu panteão em cinqüenta anos de uma centena de gênios, e a descobrir uma obra importante por semana. Estes são os mais perigosos, pois a espécie dos primeiros se apagaria por si mesma sob o peso do tempo e da evidência, caso ela não se achasse fortificada pela parca seriedade dos segundos. E dentre esses últimos a discórdia não é menos viva. Não tendo idéia do que buscam, como eles persuadiriam alguém a amar o cinema?



Prova de que se hoje em dia por acaso existisse algo próximo do que se chamou crítica de cinema - "profissão de elaborar ou de compreender a arte" - esses tais não serviriam nem para limpar as fossas dos realmente grandes - Renoir, Langlois, Daney, Skorecki, Biette, Monteiro, Bénard, etc. - basta ver o ípsilon desta semana, páginas e páginas de publicidade a Vila do Conde, páginas de publicidade de cinema, génios e mais génios, contabilistas e gestores ( "80 por cento gestão, dez por cento direito e dez por cento realização" - quem diz isto tem é que se lixar), herdeiros de scorsese e cassavetes, Bresson e Buñuel citados ao vento...promoção e pose, venda de bilhetes. Por isso dá para pensar que essa mediocridade das imagens nem é que tem a culpa maior do cinema estar todo fodido – cada um faz como sabe e diz o que quiser, por mais estúpido, e é muito, que seja - o pior são os tais jornalistas que abrindo as aspas das citações fazem as ligações ainda com mais excitação, leviandade e ignorância de uma arte tão incomensurável - o que uma câmara pode captar continua a ser incomensurável - e que tudo prometia, para ser reduzida a um anedotário de rótulos, conivências, palmadinhas nas costas, belas familias...essa aceitação do cinema como espéctaculo de massas e de comunicação. Linguagens e estruturas. Sinopses e profissionalismo. 

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