quinta-feira, 2 de julho de 2015

 
 
(...) O cinema é a arte do verdadeiro. O que me entedia no cinema é uma vida caricaturada, deformada, estagnante, homens que não têm alma, um mundo que não reconheço. O único belo é o verdadeiro, só se pode amar o verdadeiro. Adianto que entendo isso de encontro ao sentido em que o entendia Boileau, em que o entendeu o Grande Século; não falo de realismo, seja ele neo-realismo ou só realismo; não falo de De Sica, nem de sordidez ou de miserabilismo. Eu falo do Homem, é justamente isso que faz o artista. Desprezo contos de fada, pantominas, tagarelices mais ou menos engraçadas de um metteur en scène indiscreto, essas intrigas, mais ou menos retorcidas, que não exploram senão as curvas do cérebro do seu inventor. Interesso-me pelos homens e pelas mulheres, por conseguinte interesso-me por mim mesmo. Não me sinto tocado senão quando vejo a alma de um homem, ou quando, sem ornamentos nem estardalhaços, alguém se dirige à minha." (...) "O que ele mostrava, a sua franqueza, a sua honestidade, desconcertava como um soco, era um ser maior do que os heróis, mais belo do que os deuses; era um homem. (...)
 
 Jacques serguine, Educação do Espectador, Cahiers du Cinéma nº 111, Setembro 1960.

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