terça-feira, 25 de janeiro de 2022

GUERRA por Manuel Asín

 


«To which war does the title allude? The initial response would be the Portuguese colonial war in Africa (1961-1974), the one which has hit several generations who still live, dream, work and die in both geographies, and whose memory is still far from complete today. The anecdotes about that war which run around Portugal, the small or great traumatic stories which people tell or keep to themselves nourish the plot of this film, conceived, walked, talked and written by José Lopes, its leading actor, along with José Oliveira, who co-directed it with Marta Ramos. And who is, or rather who was José Lopes? It’s impossible not to wonder when you see Guerra. Few presences have been more intense and moving than his in cinema in recent years. To begin with, José Lopes here is his character, Manuel, alias “Manecas”, a war veteran who lives, walks and dreams —nightmares more than anything— in Lisbon, who has a partner from whom he distances himself and a son who is better than him. He also has a mother, in the cemetery, whom he goes to see at night to recount the events of the day. And ghosts all around: his brothers in arms above all, the veterans he meets to eat, drink, sing and cry, all present though not all alive anymore. But there is a second meaning to that same title, a meaning which points to the permanence of all wars: yesterday’s wars, today’s wars, every day’s wars. Ones which have nothing to do with Manecas but with Zé Lopes and with everyone. These are the wars for which the film reserves its darkness and its crudest light, the ones that it condenses, structures, elides, symbolises, spatialises, temporalises. Ana, the psychologist, says it in one of the most extraordinary sequences of the film, all overlapping words and images, while we listen to coffee filtering (coffee!): “You fled to Africa, you got on a boat, months and months, you killed, you saw people die... And did you come back a changed man? You died a thousand times, they killed you a thousand times, you killed a thousand times... Salazar? The blacks? The world? The money? You?”»


«¿Cuál es la guerra del título? Una primera respuesta sería la colonial portuguesa en África (1961-1974), aquella que ha golpeado a varias generaciones que todavía viven, sueñan, trabajan y mueren en ambas geografías, y cuya memoria sigue lejos de estar completa a día de hoy. Las anécdotas que corren por Portugal sobre aquella guerra, las pequeñas o grandes historias traumáticas que la gente cuenta o calla, nutren el argumento de esta película pensada, paseada, conversada y escrita por José Lopes, su actor principal, junto a José Oliveira, codirector con Marta Ramos. ¿Y quién es, o mejor dicho, quién fue José Lopes? Imposible no preguntárselo al ver Guerra. Pocas presencias más intensas y conmovedoras que la suya en el cine de los últimos años. José Lopes es aquí para empezar su personaje, Manuel alias «Manecas», un veterano de guerra que vive, camina y sueña —pesadillas, más que nada— en Lisboa, que tiene una compañera de la que se aleja y un hijo mejor que él. Tiene también una madre, en el cementerio, a la que va a ver por las noches para contarle las cosas del día. Y muchos fantasmas alrededor: los compañeros de batallón sobre todo, los veteranos con los que queda a comer, beber, cantar, llorar, todos presentes aunque no todos vivos ya. Pero hay un segundo sentido para ese mismo título, que apunta a lo permanente de todas las guerras, las de ayer, las de hoy, las de todos los días. Las que no tienen que ver con Manecas sino con Zé Lopes y con todo el mundo. Esas son las guerras para las que la película reserva sus sombras y su luz más cruda, las que condensa, estructura, elide, simboliza, espacializa, temporaliza. Lo dice Ana, la psicóloga, en una de las más extraordinarias secuencias de la película, con palabras e imágenes encabalgadas, mientras escuchamos filtrarse el café (¡el café!): «Huiste a África, te metiste en un barco, meses y meses, mataste, viste morir... ¿y volviste cambiado? Moriste mil veces, te mataron mil veces, mataste mil veces... ¿Salazar? ¿Los negros? ¿El mundo? ¿El dinero? ¿Tú?».»


https://www.puntodevistafestival.com/es/ficha_pelicula.asp?IdPeli=1269

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Top 2021


 


Filmes:

O Movimento das Coisas (Manuela Serra)

«Porque nada cessa, nada é tardio», Fiódor Dostoiévski.

Licorice Pizza (Paul Thomas Anderson)

A chave do filme está no último dos últimos fotogramas: Robert Downey, Sr.; um amadorismo («o grande cinema sempre foi artesanal e caseiro», M.O) perto da anarquia e da carnalidade do porno que interessa e que P.T.A conheceu de perto (i.é., tão de perto como as paranoias e girândolas de Pynchon); um amadorismo que enlaça com a inteligência de Billy Wilder e seus argumentistas: a cena em que a personagem de Alana Haim numa casa de banho mente sobre as supostas punhetas que (não) bateu à personagem de Cooper Hoffman é a mais bela declaração de amor para si mesma e para nós: puro bilhar às três tabelas também Hawksiano: fala-se de punhetas, fala-se do amor puro; a câmara e os miúdos numa sintonia vital como o cinema americano já não conseguia desde há muitas décadas.

Cry Macho (Clint Eastwood)

A verdade nunca é pura, e raramente é simples: para Oeste, sempre para Oeste, um novo Oeste, um Paraíso terreal; promessas escritas.

Madres Paralelas (Pedro Almodóvar)

A brutalidade e secura das elipses só têm par e só assim são possíveis pela ignorância e desfaçatez que Almodóvar aplica às regras e às academias dos ministérios argumentistas: como na puta da vida, quanto mais surreal e inesperado e implausível, mais real e com mais chão e peso.

Annette (Leos Carax)

Fodam-se vocês agora, que a mim não me fodem mais: um primitivo.

Nós (Nelson Fernandes)

Rimas de paixão e de guerra, tudo a carvão, calcinado e brilhante.

Schumacher (Hanns-Bruno Kammertöns, Vanessa Nöcker, Michael Wech)

O terror de uma máquina estar predestinado aos abismos, e a assunção disso.

Druk (Thomas Vinterberg)

Dançar e beber em vez do suicídio, e a posta em cena cinematográfica aos «esses» com isso: bela dupla com P.T.A.

King Richard (Reinaldo Marcus Green)

Regresso a James Stewart, a Frank Capra e ao Stallone do Rocky... com a câmara gravítica de Tashlin ou do Lewis a não desperdiçar nem um átomo de vingança e de ajustamento humanista; e os olhares dos protagonistas de Vittorio De Sica a tomarem conta de Will Smith. 

The Card Counter (Paul Schrader)

A solidão e o desejo de vida em panela de pressão, novamente; ainda deu para mais uma variação de The SearchersTaxi Driver; não fossem as baladas fáceis e outros flows, e PS estaria perto de Ethan Edwards / Travis Bickle. 


(Re) descobertas:

- Hollywood (Kevin Brownlow, David Gill)

Cinema é trabalho, inteligência e irresponsabilidade.

- The Horse Thief (Tian Zhuangzhuang)

O mesmo alcance (espaço, tempo e esfinge), em termos exactos e complementares, do Kubrick de 2001.

Porto, Porto  (Sério Fernandes)

Conhecer Camões e Joyce de fio a pavio e olhar e maquinar como uma criança.

Livros:

Alexandra Alpha (José Cardoso Pires)

Lucidez, cinema, sexo, política, tradição, modernidade.