Filmes:
- O Movimento das Coisas (Manuela Serra)
«Porque nada cessa, nada é tardio», Fiódor Dostoiévski.
- Licorice Pizza (Paul Thomas Anderson)
A chave do filme está no último dos últimos fotogramas: Robert Downey, Sr.; um amadorismo («o grande cinema sempre foi artesanal e caseiro», M.O) perto da anarquia e da carnalidade do porno que interessa e que P.T.A conheceu de perto (i.é., tão de perto como as paranoias e girândolas de Pynchon); um amadorismo que enlaça com a inteligência de Billy Wilder e seus argumentistas: a cena em que a personagem de Alana Haim numa casa de banho mente sobre as supostas punhetas que (não) bateu à personagem de Cooper Hoffman é a mais bela declaração de amor para si mesma e para nós: puro bilhar às três tabelas também Hawksiano: fala-se de punhetas, fala-se do amor puro; a câmara e os miúdos numa sintonia vital como o cinema americano já não conseguia desde há muitas décadas.
- Cry Macho (Clint Eastwood)
A verdade nunca é pura, e raramente é simples: para Oeste, sempre para Oeste, um novo Oeste, um Paraíso terreal; promessas escritas.
- Madres Paralelas (Pedro Almodóvar)
A brutalidade e secura das elipses só têm par e só assim são possíveis pela ignorância e desfaçatez que Almodóvar aplica às regras e às academias dos ministérios argumentistas: como na puta da vida, quanto mais surreal e inesperado e implausível, mais real e com mais chão e peso.
- Annette (Leos Carax)
Fodam-se vocês agora, que a mim não me fodem mais: um primitivo.
- Nós (Nelson Fernandes)
Rimas de paixão e de guerra, tudo a carvão, calcinado e brilhante.
- Schumacher (Hanns-Bruno Kammertöns, Vanessa Nöcker, Michael Wech)
O terror de uma máquina estar predestinado aos abismos, e a assunção disso.
- Druk (Thomas Vinterberg)
Dançar e beber em vez do suicídio, e a posta em cena cinematográfica aos «esses» com isso: bela dupla com P.T.A.
- King Richard (Reinaldo Marcus Green)
Regresso a James Stewart, a Frank Capra e ao Stallone do Rocky... com a câmara gravítica de Tashlin ou do Lewis a não desperdiçar nem um átomo de vingança e de ajustamento humanista; e os olhares dos protagonistas de Vittorio De Sica a tomarem conta de Will Smith.
- The Card Counter (Paul Schrader)
A solidão e o desejo de vida em panela de pressão, novamente; ainda deu para mais uma variação de The Searchers / Taxi Driver; não fossem as baladas fáceis e outros flows, e PS estaria perto de Ethan Edwards / Travis Bickle.
(Re) descobertas:
- Hollywood (Kevin Brownlow, David Gill)
Cinema é trabalho, inteligência e irresponsabilidade.
- The Horse Thief (Tian Zhuangzhuang)
O mesmo alcance (espaço, tempo e esfinge), em termos exactos e complementares, do Kubrick de 2001.
- Porto, Porto (Sério Fernandes)
Conhecer Camões e Joyce de fio a pavio e olhar e maquinar como uma criança.
Livros:
- Alexandra Alpha (José Cardoso Pires)
Lucidez, cinema, sexo, política, tradição, modernidade.
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