sábado, 19 de julho de 2008

Aniki Bóbó

Aniki Bóbó, Manoel de Oliveira, 1942. Primeira obra do Mestre envolta por uma narrativa ficcional.
Aquela canção, aqueles miúdos, bem como a cidade do Porto captada com uma prodigiosa candura – e em chiaroescuro impressionante – trataram de mistificar a obra, e, de certa maneira, de a arrumar onde não pertence totalmente.
Dir-se-ia neo-realista, dir-se-ia inserida na comédia portuguesa.

Mas na história de uma paixão entre miúdos, a mais velha delas – o rapaz que gosta da rapariga que gosta também de outro rapaz – e que no desenvolvimento vai resvalar para a tragédia, está um monumento.
É verdade que tem um pé na arte de Rossellini (a maneira viva como irrompe o meio, os usos e costumes, a componente social…) mas de certeza que têm outro na poética esteta do cinema de Ozu, e ainda outro no cinema americano (aquelas sobre impressões….), de King Vidor, por exemplo.
E já é um “filme para eles”, gesto moral que culminaria, 21 anos depois, no inacreditável Acto de Primavera.

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