terça-feira, 29 de julho de 2008

Voltando a The Dark Knight, há duas coisas, entre muitas outras, que me parecem escandalosas e insultuosas para a Arte do Cinema.

1. Confundir a capacidade de tarefeiro – mesmo que se defenda o filme – de Cristopher Nolan, com o génio de Tim Burton. Mesmo que não se aprecie a arte do cineasta de Burbank, é impossível não admitir que é um autor com um ponto de vista, temáticas sempre reconhecíveis e um construtor de formas indiscutivelmente talentoso, singular e consciencioso.

2. Essa atitude irritante e descomprometida de não se exigir ao cinema o mesmo que à pintura ou à fotografia. Essa espécie de caução na forma como certas pessoas se demitem de discutir formas e estéticas e preferem justificar que o filme tem que fazer dinheiro, e dentro do género é bom.
Os executivos estão lá para tratar das questões económicas, os publicitários e jornalistas para divulgar e apresentar, os críticos e teóricos para criticar e teorizar.

5 comentários:

Eduardo Morais disse...

"... um autor com um ponto de vista, temáticas sempre reconhecíveis e um construtor de formas indiscutivelmente talentoso, singular e consciencioso."

Se queres que te diga acho isto mais válido para o C. Nolan que para o Tim Burton. Como disse, 'tarefeiro' também o era o Eisenstein, no entanto são ambos excepcionais no modo como insinuam uma ideia pessoal dentro das suas 'tarefas' - marca de artista. No Burton só vejo um 'estilo'. De qualquer modo, em relação a isto cada cabeça sua sentença: Eu vejo no Ridley Scott alguém que trabalhou sempre a problemática do 'ser humano', tu vês um publicitário...

"Essa atitude irritante e descomprometida de não se exigir ao cinema o mesmo que à pintura ou à fotografia."

Com frases destas não dá gosto discutir, Zé! Estamos perigosamente perto de começar para aqui a falar em coisas como 'beleza' e 'sublime': afinal que é que exiges à pintura e à fotografia? E porquê exigir o sempre o mesmo, sem respeito pelo contexto das coisas (contexto esse que esteve na cabeça dos criadores desde o momento zero)?

José Oliveira disse...

A questão do Burton em comparação com o Nolan nem discuto, acho sequer irresposável uma comparação, acho pessoalmente o fim do cinema.

Quanto à questão de "se exigir ao cinema o mesmo que à pintura ou à fotografia."

Bom...não tem nada a ver com sublimes ou belezas.

Sim, com o modo de analisar a arte, quando vais a um museu ou quando escreves num exame, bem sabes que falas nas linhas, nos traços, no tipo de tintas, em enquadramentos. Na arquitetura a mesma coisa.

Fala-se ou discute-se cinema e só se fala na "mensagem", na "grande mensagem do bem contra o mal" de Batman.

Então e as formas significantes de um filme? A discussão do trabalho sobre os espaços e o tempo? (que tu bem sabes que dá muito trabalho).
Achas que os tipos do IMDB puserem isso em questão no posicionamento do Batman como melhor filme da história e Nolan como um génio?


'tarefeiro' também o era o Eisenstein? por isso é que foi corrido para fora do seu país e a sua última e genial obra tratada como se sabe.

Não é ser ou não tarefeiro - há quem o seja genial - é ter um ponto de vista. E para mim o ponto de vista de Nolan é igual ao do Bay. Não distingo os dois - e bem me esforço - bem como nada constato de diferente em relação a qualquer blockbuster. Convencional e normalizado - é esta a palavra em The Dark Knight.

o génio meu Deus o génio...mas, obviamente, estás à vontade para considereres também Nolan como genial.

José Roberto Rocha Filho disse...

Antes de tudo, acredito que contextualizar este filme é um exercício bem menos simplista que simplesmente posicioná-lo entre os "blockbusters norte-americanos" ou os "filmes de super-herói". Fazer isto, é ir apenas até onde interessa, obscurecendo uma porção de aspectos - a maioria estéticos, mas igualmente históricos e políticos - cuja análise seria essencial e exigiria sensibilidade e rigor acentuados.

Este posicionamento, para mim, ou é calcado em incapacidade, ou - muito pior - em covardia intelectual. Ambas responsáveis pela completa insuficiência de abordagens do tipo. Desta forma, mal se atinge a carcaça do que um filme como este novo Batman pode encerrar caso alguém se interesse de fato em apreciá-lo.

E é este o principal problema do filme e das discussões ao seu redor, acredito: ninguém se interessa o suficiente por ele. Algo justificável aos que nada de graça enxergam ali, mas simplesmente constrangedor quando nos voltamos aos que o defendem como a um fetiche inconsequente, e não como a obra de arte que é. Independente de ser boa ou não.

Contextualizar um filme é tão válido quanto complexo; mas muito distante deste puro exercício de condescendência que putrefaz a maioria das opiniões que li a respeito do filme.

José Oliveira disse...

por mim já está contextualizado, e a dimensão e a baliza continua a ser a do "blockbuster norte-americano".

Mas quem quiser lançar outro contexto: gostava de ler.

José Roberto Rocha Filho disse...

José, dá uma sacada em http://cantodoinacio.blogspot.com/ . Tem um belo texto dele sendo espinafrado pelo bat-fã-clube.