segunda-feira, 28 de julho de 2008

The Dark Knight, Christopher Nolan

Primário sentido de espaço, péssima gestão dos tempos singulares necessários à existência de cada cena, bem como à sua respiração, narrativas a desmultiplicarem-se em absoluta perda, desconhecimento das dramaturgias do mal (de um possível apocalipse), etc…

Portador de todos os vícios e convenções do tradicional blockbuster (falsos clímaxs, maniqueísmos de várias espécies, facilidades estilístico/narrativas, etc…) bem como uma bruitage sonora completamente aleatória, dispersiva e imbuída em pleno show-off.
Cristopher Nolan referiu Michael Mann como influência, mas, de facto, é de Michael Bay que todo o seu arsenal de aparatos urdidos com vista a ultrapassar recordes olímpicos se aproxima.

Dito isto, Hearth Ledger como Joker, terminou a sua carreira (se bem que ainda falta um filme) no topo absoluto da sua forma.

4 comentários:

DoxDoxDox disse...

É óptimo ver os jovens estudantes de cinema deste país a pegar em Rivettes e Minellis, a passear os Cahiers do Cinema debaixo do braço e da língua. De facto, a atenção está notoriamente voltada para o que o passado deixou pouco popularizado e o gosto está estimulado por argumentar em prol das características que passam despercebidas às maiorias.
De facto, é de maiorias que se trata no fundo, porque é delas que estes textos têm, notoriamente, a pretensão de fugir. Muitas das vezes, aclamando e subscrevendo (quais ídolos adolescentes) determinadas identidades/indivíduos isolados que, pelo trabalho, ascenderam como singulares e alternativos em relação à sua contemporaneidade cinematográfica.

Mas, como estudante de cinema que é, pergunto-me se não tranformou também no inverso do que quer representar. Por outras palavras, tal como se esforça por demonstrar a apreciação dos clássicos, exaltando cada um que vê com desmesura, também insiste em abater as obras que lhe são contemporâneas, com uma total falta de amor ao cinema que nada o caracteriza nos posts do século passado, e que lhe fica tão, tão mal.

Poucos são os que têm desfeito o "Dark Knight" com más apreciações, é verdade. É um blockboster e tem sido, "massivamente", aclamado, para lá de "classes" de paladar cinematográfico e pedestais de conhecimento.
É certo que gostos são gostos, e ninguém os pode discutir. Discordo, como se tem mostrado óbvio neste comentário, dos seus. A liberdade é o seu direito de adoptar a postura que mais lhe convenha, mas atente à precaução: ninguém acreditará que sofreu realmente com a "péssima gestão de tempos" num filme de acção com é o "Dark Knight", depois de sorver por hábito o Rivette, entre outros. Em relação às facilidades estílitico-narrativas e ao show-off, que o seu próprio facilitismo desdobrou do mais óbvio e superficial da noção de blockbuster, sugiro que olhe, com os olhos contemporâneos que tem para o cinema contemporâneo que o rodeoia. E com verdadeira atenção, relembre as antiguidades que tanto lhe aprazem e note a evolução do ritmo, tendência natural da civilização e legenda febril da sociedade actual, que o Cinema hábil e rapidamente soube transpôr para a tela. Ao Cinema actual não faltará, pois, ritmo e nem o faltará à consciência crítica do próprio espectador, por mais inculto em relação à história do cinema que possa ser; depois de décadas e décadas a ver filmes, o espectador já aprendeu a focar a sua atenção no que é essencial, para que o mais essencial da história possa passar por completo, mesmo que haja várias "mais narrativas a desmultiplicarem-se".
Gostaria que desmultiplicasse agora a sua acusação dirigida a Christopher Nolan, acerca do seu suposto "desconhecimento das dramaturgias do mal (de um possível apocalipse)".
Já que, na verdade, não vejo ali senão um dos melhores vilões que já vi, de desfiguração psicológica, condizente com a fisiológica, detentor da neutralidade de um deus ex machina- desconhecem-se as suas origens mas tem um destino claro para o mundo. O (lá está!) apocalipse, resultado de plantações sucessivas de estados de caos e de terror, formas de maldoso divertimento sem regras que chocam e divertem quem vê e ainda concedem a este vilão a aura infantil de uma traquinice infernal. É nesta pueril falta de delimitação do bem e do mal que reside a verdadeira essência humana desta personagem.
Então, voilá, concordo consigo: efectivamente é maravilhosamente interpretado por Ledger.E é porque ele está, como diz, no " topo absoluto da sua forma", que este papel não só não poderia ser mau, como teria de se mostrar exigente, e de comprovação difícil. Especialmente, tendo em conta todo um historial diverso de interpretações do Joker.

Relativamente ao disfemismo da sua legendagem da realização deste filme como um "arsenal de aparatos urdidos com vista a ultrapassar recordes olímpicos", também é certo: Cristopher Nolan foi pretensioso neste filme. Mas sem qualquer dúvida. Claras são também os seus propósitos de ultrapassar recordes: teria, obviamente, de começar por ultrapassar os próprios já que já fizera uma versão prévia do Batman. Teria ainda de tentar sobrepôr-se a todas as já feitas, e de se destacar, já que, convenhamos, se não for para melhorar, mais vale não fazer sequer.
O Batman, o mais humano dos super-heróis, renascido das BDs rotuladas pelo consumo geek é tão valioso e digno como a personagem godardiana mais trabalhada inspirada nos clássicos gregos ou bíblicos. O rótulo prévio é o verdadeiro "portador de todos os vícios e covenções".

Cumps.

José Oliveira disse...

Olá, obrigado pelo tamanho do seu texto, acho que não era merecedor.
Mas isso de eu abater obras contemporâneas? Onde leste isso Sabrina? Então eu não idolatrei filmes como We Own Night, There Will be Blood, No Country fo Old Men; mesmo o filme do Wong kar-Wai; o do Shyamalan, etc…

Está tudo nesta coisa que passa por blog. Aliás, os dois últimos posts – Green e Guerín – são perfeitamente contemporâneos.

Quanto ao resto: não é por ser blockbuster, é por eu não gostar mesmo, tenho de ser sincero, senão ia gastar o meu tempo na coisa que mais gosto, para quê?

Tudo o que escrevi tenho como certo, mas poderia falar de muitas mais coisas: um Bale sem sal e praticamente etéreo, etc…

De resto tens razão, uma dessa personagem pode ser tão importante como algo “Godardiano”, nos filmes do Burton, por exemplo, isso fica claro.

Quanto à velocidade contemporânea, está no Wong ou no Assayas, por exemplo, não acho que esteja na maneira de cortar rápido e aleatoriamente este tipo de planos.

O que seria se Nolan tivesse a coragem e o virtuosismo de Stanley Kubrick e filmasse a moto do Batman em plano sequência, a fazer durar aquele plano sumptuoso?

De resto, intelectual, no sentido que tu referes, não o sou de certeza e o cinema contemporâneo interessa-me completamente.

Cumprimentos.

Eduardo Morais disse...

José, se o Nolan filmasse o Batman em plano-sequência, estaríamos então a falar do Alfonso Cuarón e de certeza que estarias a implicar por outra coisa qualquer...

Mas vamos lá a ver, que podias esperar de um filme de 160 milhões de dólares? Sabendo que cerca de metade das receitas vão para a sala, tens um filme que TEM QUE VENDER 320 milhões só para se manter à tona. Com bilhetes a 6 dólares isto obrigaria a mais de 50 milhões de espectadores!

Entendo que te aflija o lado financeiro do cinema, mas é impossível ignorá-lo quando falamos de filmes destes. Eu cá acho que o Nolan teve imensa coragem, com o pessimismo do filme esteve-se mesmo a arriscar. É um filme de superheróis cinco estrelas. Não vale a pena entrar em críticas e comparações desnecessárias e injustas, tentar comparar este tipo de cinema com outro é tão construtivo e necessário como comparar vinho com pneus.

Quanto à perspectiva histórica, apenas quero dizer que acho interessante o querer 'inventar' uma História do Cinema isolacionista e 'tão velha como o mundo' e a rejeição por vezes atroz dos que trabalham o Cinema como algo que pertence a uma História da Arte muito mais antiga e vasta (vide Greenaway). Deve ser por lembrar que o cinema não é tudo...

Deixa de fora disto as tuas listinhas negras. Vê o filme, e a quem se destina. O Trabalho, não os Egos.

José Oliveira disse...

Falo sempre dos filmes e tento analisar as formas e estéticas, nunca o resto. Não interessa se têm que fazer dinheiro, pelo menos a mim.

Falas em História da Arte, e depois esqueçes-te que deverias analisar um filme como analisas uma pintura.

O resto são negócios, mas antes disso existe a evidencia do que está na tela.

Se não analisas isso, e preferes especulares negócios, não vale a pena, a sério.

Existem os executivos que o fazem por ti e são muito bem pagos.

Cumprimentos.