Sem atingir as alturas de “Xavier”, um dos melhores filmes portugueses de sempre, a última longa-metragem de ficção de Manuel Mozos, “4 Copas”, possui dois trunfos de monta: um belíssimo olhar sobre uma Lisboa estranha, suburbana e contraditória, e uma excelente direcção de actores. Outras vozes dirão que o argumento tem “buracos” e fraquezas, mas o cinema de Mozos privilegia sempre outras coisas: grandes momentos de cinema como o plano ao cimo das escadas, quando o par “amoroso” se reencontra, pequenos olhares, pormenores de encenação que vão muito para além de qualquer vontade de construir uma saga familiar. A chave do filme existe no modo como aquele salão de cabeleireiro extravasa da lógica realista, na primorosa forma de filmar a paisagem e de nela inscrever vultos fortuitos, quase fantasmáticos, no desespero surdo e contido da personagem de João Largato, na capacidade que uma personagem secundária (a fabulosa florista) tem para simplesmente ouvir. Pequenas coisas, grandes movimentos de sentido.
Mário Jorge Torres
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