domingo, 11 de dezembro de 2011

Cela s'appelle l'aurore

Um dos mais belos filmes de Buñuel, certamente dos mais comoventes, ultra misterioso. Beleza que transborda serena dos encantos daquela terra e de uns homens bons que fazem esquecer o terror da escória. Comovente pelos rostos que exprimem tão nobres e genuínos sentimentos e pelo que no interior se adivinha escaldante, pelas certezas absolutas e pelas torturantes duvidas e contradições. Misterioso ao nível dos surrealistas pois o que ali se sente jamais se ousa gritar ou ostensivamente figurar, tão secreto, tão em filigrana. Doce e trágico a um tempo, de travo indefinível.

E é o filme do espanhol que tem a moral – palavra perigosa e para usar à cautela, sem vacilar muito - mais bonita de todos os seus, não só em filmes penso mas em qualquer obra ou em qualquer conto. Moral da história, isto é.
Amor entre homens e pelas mulheres assim não tinha visto nunca, nestes limites. Vale a pena dar a vida pelo casal puro e desfeito às mãos dos mercenários do dinheiro. Vale a pena ficar com o homem que pela amada perdida brutalmente partiu para o tudo ou nada. E como vale a pena estar do lado do seu duplo ou irmão de coração e perceber que pela quimera encontrada quando porventura jamais esperada, se deve ir até ao fim do mundo. As trocas de olhares que tudo dizem no mais inviolável silêncio, apetece que o tempo aí pare. Que coisa pungente, que alturas e profundezas dos sentimentos aquele final que tudo isso condensa – o seu "outro eu" morto nos braços e o correr posterior para os braços da sua amada, agora sem duvidas. E depois a câmara sobe e eles vão à vida. Por coisas assim, tudo.

2 comentários:

José Oliveira disse...

Ainda em Luis Buñuel. Relações tão cândidas e tão fodidas como, só o bruto no "El Bruto" que se perdeu de amores e se derreteu literalmente pela rapariguinha cujo seu pai foi sem ele saber assassinado pelo próprio. A chama a tamanha crueldade se impôs e a impossível corrida dela no final fica como uma ode e golpe fulminante sobre miserável meio. Num filme tecido a luzes e muitas muitas sombras expressionistas, invólucro em toques de languidez e volúpia aflita.

Por agora fico igualmente siderado pela menina muito muito jovem e a sua relação e no fundo entrega em elipse ao negro que chega de fora e se instala naquela exótica e erótica ilha. Tudo ou quase tudo fora das assombrosas e assombradas imagens, tudo ou quase tudo fora das palavras. A câmara é quem sabe e os personagens ali também só os sinais inevitáveis deixam transparecer. "The Young One" é outro dos mais belos.

Obaldino disse...

Bravo!!