"Essential Killing" – Jerzy Skolimowski
Esqueça-se o tema e o contexto político, o Afeganistão, o terrorismo, espionagem, tortura. O ar deste tempo apenas usado para aspirar eternidades.
Tudo isso é pretexto para o Polaco praticar aquilo que nos longos anos de ausência do cinema praticou: a pintura.
Mas como o fundo é vasto, imenso, aberto, rasgado, gélido, esbranquiçado, solar, etc., urgem meios para se poder captar e trabalhar esse desmesuro sem amarras, livre, se possível voando como os pássaros que por lá atravessam ao longo dos diminutos e sufocantes oitenta e três minutos.
Por falar em tempos e metragens, o movimento e a poética do filme está nesse estarrecedor e litúrgico movimento de câmara sobre um helicóptero por cima através das montanhas logo depois da demarche do fugitivo.
Aos vinte e três minutos Skolimowski o pintor precisou desse enorme bicho de hélices cortantes para poder explanar dos altos, para poder ver como são as árvores verdes mas ali quase negras contra a neve cegante...precisou de nesse emaranhado escrever e distender uma sinfonia suave convulsa e calada...de enquadrar no mesmo plano terra céu o vento que assopra e abana os ramos...precisou executar um bailado sensual e erótico desses elementos...ver e fazer-nos ver como um raio de sol entra na objectiva e os efeitos que produz na lente e nas arestas das arvores no branquíssimo chão etc...descobrir ou redescobrir ângulos normalmente recônditos e inauditas perspectivas volumes texturas…precisou abstracionar e fixar essa sensorial missa...
E corte para a máquina: isto foi o que precisei para ver como nunca tinha visto. Sem disfarces.
Câmara pincel.
E assim do romantismo ao impressionismo dos enlevos concordantes às polifonias tortuosas abolindo todos os pós-.
Pintura e a música sua irmã.
Música da luz.
Pintura e a música sua irmã.
Música da luz.
Ou mais pinceladas: um corpo branco espalmado contra o branco etéreo tantas vezes tingido a carregado vermelho de sangue que é o corpo vilipendiado de Gallo.
Belíssimo.
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