Exemplos práticos:
- Autorismo: “J. Edgar” pode não ter a depuração e o
humanismo esventrado de “Mystic River” (nem essa ambiguidade terminal, essa "pequena" guerra imensamente mais pecaminosa e desonesta do que a de Sniper, o horror calado do gesto final entre Kevin Bacon e Sean Penn) ou de tantos tantos outros, mas o
carinho final só tem paralelo em Borzage. Assim como o poder de sugestão é
mais radical e potente do que o de qualquer contemporâneo que diz mandar às
urtigas as regras e a História e a moral - a liberdade tonta de pacotilha que
incendeia os festivais e as canetas excitadas que gritam ter descoberto a pólvora. O “Jersey Boys” respira leveza, diversão
e os personagens até falam para o espectador; mas então, dito isto e visto isso,
em que gaveta podemos encaixar o “último dos clássicos”?
- Confiança: tenho confiança no coração de Clint (mesmo
quando mata por amor a Million Dollar Baby) e na sua incorruptibilidade; confiança
extrema na dedicação de Pedro Costa a um povo e a uma herança; desconfio das
masturbações abjectas de Lars Von Trier ou das metafisicas balofas de um
Joaquim Sapinho – sem ser preciso retórica para explicar o que é evidente na
tela e a suja.
- Fidelidade: irei sempre ver os dois primeiros
tipos citados no ponto acima, como irei a uma cinemateca ou ao barraco de um perfeito
desconhecido que não queira impingir ou vender nada; nunca irei ver o “Mommy”
do Xavier Dolan depois de ter aguentado o trailer mais baixo e nojento para com
as distâncias ao Humano a que o Cinema tem de se sujeitar.
- Partidarismo, mestres e lendas: tal como a
confiança e a fidelidade aniquilam a falsa questão do autorismo, a cada qual se
reserva o direito ao erro e à contradição natural; jamais à indesculpável traição
e mercenarismo calculado, lixar o próximo, filhadaputice.
- Progressão na carreira: Religiosidade, trilho para o Sagrado (acreditar
no que se faz: no que se filma como no pão que vai ao forno) ou NADA.
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