Forget Paris, de Billy Crystal, 1995
Forget Paris é um filme sobre basket? No
genérico irrompem retratos de feras do calibre de Henri Cartier-Bresson ou do
absurdo de Elliott Erwitt, ao som embalante de Billie Holiday. Corte, e um
piano toca notas gravemente possantes, a câmara sobe numa grua e vemos outro
tipo de feras que marcaram o desporto universal dos anos noventa, de Charles Barkley
a David Robinson. Estranha mistura do que é artisticamente baixo e do que é
artisticamente alto, estranha mistura documental e cinemática, para, passadas
as decisões in extremis da bola, aparecer o árbitro interpretado por Billy
Crystal a mostrar que quem tem um apito pode ser um dos homens mais poderosos
nesta terra e meter monstros daqueles e multidões daquelas na sua ordem.
Forget Paris é um filme sobre as altas
impossibilidades de um argumento cinematográfico apenas poder ser superado
pelas altas impossibilidades que a vida confirma a cada momento. Onde os
narradores em volta de uma mesa de restaurante encenam a narrativa e as emoções
a seu bel prazer desse par improvável – a árbitro da NBA e uma jovem que
trabalha numa poderosa empresa de aviação que se conhecem no enterro do pai do
primeiro em Paris depois de voltas e reviravoltas do caixão. Um pai que parece
querer entregar ao filho o que nunca entregou em vida.
Narradores que encenam a seu bel prazer, manipulando
e ajustando a fita conforme o prazer e segurança a adquirir para a vida de cada
um que está a contar, perfeitos realizadores. Forget Paris é sobre o
individual no colectivo, as jogadas sumptuosas e os compromissos, a técnica e a
poesia e a corrida de fundo, a generosidade e a inteligência. Quem quiser bater
todos os recordes e nada ganhar, sempre tem os deportos solitários. Um filme
sobre basket que parece ter a mesma orquestração e fôlego da vida
corriqueira. Forget Paris é sobre o momento da perfeição inicial
da criação do universo e sobre o seu explanar lento – um filme sobre a
experiência e o movimento totais onde o mais mediático e a exepção esbarram com
a regra e com a banalidade. O homem que aparentemente tem mais tomates
na américa, o único capaz de mandar calar Shaquille O'Neal, e a menina
parisiense mas americana que domina as rotas dos ares e do mundo, amam-se
totalmente, não se conseguem ajustar, jogam e matam o seu “eu”, para
descobrirem que esse é o cesto complexo que interessa.
Pelo meio, mais Billie Holiday, danças à Gene Kelly,
Cole Porter e Duke Ellington e Ella Fitzgerald que já viveram aquilo tudo, as
camisolas dos lamentavelmente desaparecidos Seattle SuperSonics, o Billy
Crystal que é a pessoa mais bonita de sempre a descer dos pedestais, o cúmulo
do romantismo na declaração final e a balada dos créditos como pura piroseira. Forget
Paris acata todas as coisas belas e tudo o resto inclassificável e não só
nos confirma o cliché inelutável do jogo da vida como não o separa da
poesia do instante mágico para todos conservado, à espera, disponível, para dez
segundos ou para nunca. It's a kind of magic, cada um, o seu filme.
Disponível no My Two Thousand Movies: https://mytwothousandmovies.blogspot.com/2019/08/esquecer-paris-forget-paris-1995.html
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