terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O problema de “Avatar” é que está assente e vive numa lógica de equívocos. Por um lado ainda dá para sentir (levemente, mas pronto) a mão de ferro e o saber do homem que transformou “Aliens” e “T2” em objectos seminais; gestos viscerais, possantes, e assim mesmo completamente cristalinos na sua contemplação da acção e do vislumbre do apocalipse. É ainda óbvio que “Avatar”, mesmo ilógico e menor, se distingue completamente das mediocridades infantis de George Lucas. Ou da saga do “Senhor do Anéis”, ou de “Matrix” e “Speed Racer” – filmes ainda sem óculos mas fabricados com a mesma lógica, com a propensão para. O que não aceito (e não compro) em “Avatar” é que sendo formalmente e narrativamente (basicamente “disney”, “pocahontas”; mas o que mais chateia é a literalidade metafórica sobra as guerras e sobre bons e maus) apenas um vislumbre e uma pálida cópia do grande cinema de Cameron, possa ter como caução para uma suposta grandeza e revolução o facto de utilizar a tão propalada terceira dimensão, coisa que mais não é do que uma pomposa palavra – e um brinquedo – que serve apenas para, a cada plano, a cada sequência, ser uma mera demonstração de criatividadezinha e de acumulação (é irritante a quantidade de pormenores e de objectos que muitos ambientes possuem) de efeitos e de “possibilidades” de “magia”; ou seja, um mero catálogo impressionista, um luxo dos “poderosos” e dos “privilegiados” para se fazer de algo que convoca imensos clichés e simplismos, algo singular. Ou seja, a 3º dimensão não serve para absolutamente nada, apenas para chamar a atenção para ela mesma.

Quanto à possível dialéctica entre as narrativas primitivas e a tecnologia de ponta, o velho e o novo, enfim…até poderia ser interessante, isto se realmente não se confundisse primitivismo com maniqueísmo; frescura com exibicionismo. O Mestre Rohmer, com a sua exigência e clarividência, compreendeu isto tão magnificamente, num certo filme tão grande…

2 comentários:

LuísCarneiro disse...

Eheh, não podes por o Cameron e o Rohmer no mesmo saco. O Avatar não vale por si, mas num contexto muito especifico.
A verdade é que numa era critica universal quem dá a cara são estes. As velhas carpideiras tornaram-se há muito obsoletas. Spielbergs, Lucas, enfim. Isto é outra divisão.

João disse...

Nunca vou perceber o fenómeno Avatar, filme básico narrativamente que só o 3D o salva para a mediocridade. Prefiro mil vezes o filme da disney a este de Cameron. E Cameron anda perdido, um desperdício de talento (por onde anda o Cameron de Terminator?).
Não gosto deste tipo de cinema, não gostei da experiência ao ver todo aquele artificial. Para mim dispenso. Um desperdício de dinheiro.