segunda-feira, 14 de setembro de 2015



"Uncertain Glory", que Raoul Walsh não teve medo de ousar na estação mais quente do século passado é do mesmo betão ou metal indissolúvel do primeiro André De Toth desse ano, "None Shall Escape", ou do Fritz Lang de "Ministry of Fear" e dos seus imediatamente anteriores - 1944, a elevação e força da moral e dos olhos nos olhos - como nos planos iniciais da guilhotina - em vingança e justiça férrea. O percurso, a mente e os valores da personagem de Errol Flynn vão em derrapanço e aflição até ao momento em que pela primeira vez olha para uma mulher sem o intuito da pura carne; como uma doença ou um inexplicável fenómeno sobeja a paixão, a alma abala, e vem à luz um novo ser, entre choros e risos. E Walsh, lado a lado com Flyyn, num só, não lançam sinais óbvios, não escancaram isso, tudo complexificam em nome da perdição que significa ou significará a conjugação de tais partes - guerra, nascimento, alegria, fim. E de um momento para o outro, sem ninguém pedir nada ou esperar nada, o condenado e a inocente do fim do mundo descobrem-se aprisionados e vergados um no outro, órfãos Griffithianos com a presença no mundo ameaçada por algo que os transcende, encravados no ar do tempo e nos desejos eternos. Ela entrega-se a ele inteira e sem fazer perguntas, aceitando tudo; ele, o ladrão, criminoso e mulherengo, vendo um rosto daqueles desprotegido, esquartejado pelas velas funestas, insuportáveis, menina que não pode cantar na idade de cantar, morre não por cem ou pela humanidade inteira, mas por si; isto é, para que o Ser humano ainda faça sentido. Para lá do patriotismo ou da penitência codificada, a compulsão animalesca da verdade e dos seus fundos sem volta a dar, i.e., dos sentimentos. Podem-se ter mil cursos ou discursos arquitectados detalhadamente, em campanhas políticas inteligentes ou no campo deserto dos cegos, que todos eles, em data e lugar impronunciáveis, se vergarão perante a derradeira revelação. Brevemente. Interminável ápice.

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