sexta-feira, 11 de setembro de 2015


William A. Wellman também realizou a mais bela missa da história do cinema, missa branca e a tudo aberta, em território desconhecido e em guerra; claro está, "Battleground", de 1949. Ambidestro e na neve que não cessa e assim lhe proporciona fragosos desportos de inverno, esse fabuloso padre vai passar isso para os soldados que vieram até ele, numa generosidade e violência que vai ascendendo até a uma libertação possível que termina na marcha final e se estendeu sempre pelas formas cerradas e impassíveis, corajosas, da câmara. "Esta viagem foi necessária?" é a única pergunta e sermão que entrega aos filhos, irmãos, indo divagar pelas super-raças e super-poderes para se tornar óbvio que todo o fogo de posse absoluta e cega tem de ser apagado antes que se espalhe. E que sim, no pesadelo de milhões de mortos, sim, a viagem foi necessária. Seguidamente, rezam o que podem, e regressam às bombas. Mas o que esse fabuloso e generoso Padre não diz boca fora, embora não tenha vociferado outra coisa, tem que ver com esse escândalo que se passa entre o natal, pelas árvores magnânimas e na alvura mais fina: se homens feitos da mesma matéria-prima e sempre tão semelhantes ousam fulminar-se frente a frente, se isso se torna rotina gélida, sem nome ou designação, e pior, se um tipo de honestidade vem ao de cima que não é possível em tempos e espaços de paz podre, então tudo isso é mesmo necessário para se saber do nível de inocência e culpa que a raça pode baralhar, para se saber do nível de maquinação que o poder, qualquer poder sem Homens e com Ideias, consegue perpetrar à beleza dessa natureza que parece chorar pela beleza dos homens. Nessa sequência composta e coreografada segundo o mais velho sagrado atinge-se a plenitude da comunhão, nessa gravidade serena todos estão iguais, juntos, unidos. Envoltos, emplacados e escancarados nessa pressão da atmosfera surgem com a mais irrefutável precisão todos os rostos da tragédia, sem legendagem ou tinta-da-china mas perfeitamente reconhecíveis, nazismo ou jornalismo ou coisas bem mais subterrâneas. Em "Battleground", a pura abstracção só revela a pura perdição, e na dor infinita, é um filme belo, partindo dessa mais bela missa do cinema: nem redenção, nem perdão fácil, antes da nossa imprevisibilidade e consciência, existência. Daqui à nostalgia soturna, lunar e unificadora de "Good-bye, My Lady", fôlego crepuscular, deve ter a ver com os regressos a casa de todos, algures.

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