Certeza absoluta: os longos filmes com
que Otto Preminger entrou nos anos sessenta são tão eléctricos
como “Whirlpool” ou “Angel Face”. Uma qualidade outra de
electricidade que só pelo largo scope transforma o vácuo em abismo
tão centrado como na típica janela clássica dos citados
fantásticos (de tão vísceros). O crescente drama moral de “Advise & Consent”
passa certamente pelos homens direitos de Henry Fonda e de Don Murray
que mentem e se matam pela preservação da liberdade de escolha e da
liberdade de contradição, da personalidade e dos limites, ou seja,
a elevada redenção; encontrando-se e falando esses homens no abismo
mais aterrado e aterrador que une o presente ao passado sempre
actuante. A despedida de Murray para com a sua mulher e filha é um
dos grandes momentos do cinema americano pois estilhaça os valores
de perseverança que John Ford conservou e ousou inclusive além
morte. O restante coro, do miúdo dos olhos limpos estupefacto à
velha rata de Charles Laughton, sabido, imprevisível e queimado de
tantas imagens e sons mesclados, não esquecendo o presidente
consumido e disponível, vão ligando e desligando interruptores, na
nossa perene crença e descrença que ainda nos segura.
Scope que vai dos corredores privados
onde se joga o social aos patamares míticos para turista ver, dos
quartos de casal aos ecos perdurantes da História naquela Washington
Grega e Romana; deixando ainda todo o barulho e actualidade - a
guerra iminente mas também a paz e a podridão seculares – ao lado
desse campo de pressão e de tensão onde o instinto parcial pode
cheirar tanto a verdade como os factos ou o asseio curricular. É
esse tipo de choques que esta encenação faz faiscar em primeiro
plano – os valores julgados indestrutíveis contra o momento fatal:
seres em alta rotação, devorando o espaço e o tempo sem
consciência, à maneira da geografia estonteante em “The
Cardinal”. No términos, nada se decide depois de tanto se ter
escancarado do processo ou dos circuitos complexos do cérebro e da
máquina. E a câmara de filmar anda para ali às voltas, a divagar,
a ziguezaguear, tão à nora como a lógica procurada. E sente-se na
pele, e na cabeça, sem fio terra ou filtro protector, que os únicos
homens tombados são ali os que continuam de pé. Fantasmaticamente
mas sobretudo poderosamente vibrantes.
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