De “Broken Lance” que Edward
Dmytryk realiza em 1954 se diz que é um remake de “House Of
Strangers” de Joseph L. Mankiewicz e por sua vez da história de
Philip Yordan por Richard Murphy; mas a actualização ao para trás
no tempo não necessitava de âncoras ou então tais só foram
precisas para relembrarmos que estamos sempre a falar da mesma coisa,
do José da Bíblia a King Lear a Oakley Hall: paixões tormentosas,
fogos proibidos, infâncias perdidas, predilecções mortais, cordão
umbilical, coração na boca.
Por isso, saberemos mais ou menos como
evoluirão as coisas, como acabará a jornada e da forma que tudo
começou, mesmo só o lendo nos cantos das expressões e em frases
escondidas; a surpresa, ou seja, o terrível e fascinante do instante
imprevisto depende do cada qual que cada um de nós é, e aí está
todo o drama. Tratando-se de cinema a questão é de dramaturgia, e
duas cenas se enlaçam e constituem o âmago clássico e logo o novo:
começando pela segunda: a oposição derradeira em plano fixo de
vários minutos antes das vanguardas entre Spencer Tracy e Richard
Widmark, que só é tão dura e tão tensa para todo o passado se
volver imediato e o imperdoável se impor; Widmark mete de fora as
tripas da falta de amor, do abandono, do abuso; Tracy mede o pulso
aos limites e morre; já se sabe do próximo capítulo. A primeira
das cenas foi o encontro entre o torcido e retorcido Robert Wagner
com a sabida inocente Jean Peters; sendo esse momento mais um remake
de “East of Eden”, a forte menina faz ver ao frágil Wagner da
maldade e da parcialidade horrenda do seu Pai, para evidenciar o amor
do pai ao filho, e do filho ao pai; dessa luz paradisíaca sobeja o
embate familiar mais antigo do que tudo, prometendo-se o eterno
retorno ao fruto proibido.
Pelos meios da cena da morte e da cena
da nascença - a vingança e o reconhecimento - a Mãe que vai olhar
o desenlace de longe, impassível e a velar, como o lobo que ronda
por ali desce cedo, centros da discórdia fiéis ao chamamento e
fiéis à liberdade. Katy Jurado, sublime, trágica e mágica, que
completamente se entregou e completamente cedeu passagem, orienta e
faz-se ponto de vista de todo o filme, de todo esse grande arco. E a
dramaturgia com ela, estancando-se para tudo sair de uma só vez,
tacteando num novo mundo derivado e irreprimível. Por isso Edward
Dmytryk faz parte do legado convocado, sempre em repetição, sempre
no jardim inaudito.