“The Young Lions” saiu
dali do final dos anos cinquenta e já com tudo para os sessenta,
onde tanta coisa se decidiu e vergou, e na sua imensa força e
fragilidade está ao nível de “Some Came Running” ou de “Rio
Bravo”, mas também de “Meghe Dhaka Tara” ou “L'avventura”.
A partir daí, muito do que foi já não mais seria, para surgirem
novos cenários e novos mitos. A força tem a ver com o CinemaScope
que não cede a nenhuma pressão – nem quando treme nas bombas sem
efeito especial – às variações de temperatura ou de paisagem,
personalidade ou ambição. Fragilidade pois qualquer um dos três
protagonistas, seja o alemão de Marlon Brando ou os quotidianos
soldados americanos de Dean Martin e de Montgomery Clift, são
resolutamente verticais, medrosos, heróicos e cobardes, estóicos e
desistentes.
Com a guerra no seu encalço
apaixonam-se vezes sem conta, para permanecerem inocentemente fieis.
Brando é o caso mais complexo, desde que olhamos para ele que temos
a certeza de que nunca será nazi, e assim continuaremos com a
certeza até ele morrer como um grande, depois de se ter escapado –
não mata os seus comandantes como sabemos que lhe apetece, mas antes
de um passeio à Philippe Garrel com alguém que o percebeu diz a
esse alguém que pensa como ela mil vezes ao dia, guerreiro encolhido
no seu brilho, vencedor na arena dos perdedores. Dean Martin começa
na sua imagem de marca, a conquistar os amigos pela bebida e pela
disponibilidade e as mulheres pela simples presença, evoluindo até
se despir de todas as cintilações e famas que nunca pediu e
permanecer nessa expressão descarnada de melhor amigo. Quanto a
Clift, do nada surge despido e despido acaba, como a criança mais
pura e sem saber como se comportar na terra de todas as dissimulações
(sobretudo quando tenta a mentira, recurso fácil dos nada
opinativos), e desse modo tanto conquista o anjo loiro que lhe dá um
filho como pena infernalmente no clube dos duros para onde é chamado
por não ter família nem significado. Quanto às mulheres que vão
surgindo e lhes vão deitando a mão, todas têm as suas razões, da
esposa do nazi com influências que se sente mortalmente sozinha até
à francesa que perdeu o marido e não vai na lengalenga da paz
proferida pela boca fora; quando tudo acaba só Clift entra no lar,
mas qualquer uma delas apelaram a isso mesmo, silenciosamente.
A grande vitória de Edward
Dmytryk está em ter trocado o génio e a glorificação que o tema e
as vedetas teriam assegurado para ir pelas sendas e pela mão da
disponibilidade, entendendo o que só o tempo pode permitir entender.
Seres resolutamente verticais, medrosos, heróicos e cobardes,
estóicos e desistentes, enquadrados ternamente pelo formato largo que
lhes agiganta a verdade e perscruta o inominável; distância que
expõe as feridas – Clift tem aqui afinal o seu papel e a sua
biografia mais profunda, grave e esventrada – mas também busca a
cura; firmeza que se impõe nos abalos terríveis às fundações –
sejam os campos de concentração, seja o mal praticado como bem cego
(tremenda a condensação de Maximilian Schell) – permitindo a
passagem aos bons sentimentos; escutar os rumores finos e secretos
que contradizem a bruta aparência. E o fundamental é então disso –
no centro terrorífico da nossa História, pelo cinema, resguardar
alguma coisa, o olhar estraçalhado mas firme de Clift como o
regresso a casa. Mesmo ou sobretudo depois do encontro dos três na
terra do nunca, onde é mais uma vez a raiva e o susto que operam sem
controlo. Mas o olhar como a câmara frontal assim inatos nunca
mentem, e muito se resguardou ainda.
Sem comentários:
Enviar um comentário