Em “Blood on the Moon” Robert Wise pega na poesia do título e no significado que os nativos - que no filme quase nunca vemos - lhe dão para iluminar tudo dessa forma: grandes paisagens, cimos ou interiores de cabanas, cantos de saloons ou os infinitos céus dos Deuses, como que através da chama bruxuleante e quase nada de um fósforo; chama quase sempre à beira de morrer que tenta salvar alguma coisa a sangue negro ou a carvão de diamante mal lapidado; textura bravia e fragosa que é da mesma casca da face descarnada do Buster Keaton carcomido pelo álcool que a vida e os imbecis lhe franquearam, do peso do ar e da matéria do pó dos suicídios e das transfigurações de Philippe Garrel, do romantismo terminal inconsciente cravado no desfigurado Montgomery Clift que em “The Young Lions” se esventra perante o anjo caído.
Nos primeiros planos está lá tudo, a chuva como lâminas dos altos, a envolvência agreste a comentar vontades circundantes, a neve, a escuridão e o inferno ao longe; e um fantasma no epicentro, o Jim de Robert Mitchum, que vai sendo confundido, ameaçado, maltratado, como um Imigrante ou um Nativo - as pulsões do mal fundador daquele território a embaterem e a serem sugadas na sua massa e na sua aura que ou já viu de tudo isso e vomita-o ou nunca viu nada disso, perfeito inadaptado neste palco para excelentes actores.
Wise,
e o caça-fantasmas, porque os olha de frente e os fixa assim, Nicholas
Musuraca, partem dos dilemas e paradoxos do western
e filmam tudo como num noir,
séculos e pisos unidos pela lixeira da ambição e da ganância; os
genocídios do berço, uterinos, o visco da cidade, máxima
modernidade e máxima alienação. Jim, o homem que transforma a sua
fama de assassino em lágrimas de redenção e de reinício encontra
a mulher, a sua pura, depois de vaguear e de se entregar à sorte dos
ventos e da ausência de luz, passada a relação com os brilhos
indefinidos e o contraluz da morte, e a composição triangular, o
movimento lancinante e deslizante e a entrada no lar parecem uma
anunciação vistas as cinzas derradeiras. Mas o que permanece são
mesmo esses gritos, uivos, animalescos do perdido Jim a comentarem o
facto de a honestidade provocar risos e estupefacções, corpo ardido
em paisagem ardida, para uma ressurreição à Carl Theodor Dreyer.
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