E por falar em filmes e amigos...
"Magic & Bird: A Courtship of Rivals" pode ser um tão
belo filme sobre a amizade como o "Rio Bravo", o "Ed
Wood", "Pat Garrett & Billy the Kid", "Scarecrow",
"The New Centurions", “The Big Chill”... "Xavier"...
Frank Borzage...
Uma amizade permanente e eterna que não
precisa dos encontros diários, da rotina ou do picar do ponto...
Magic e Bird, os dois seres mais diferentes do planeta terra, com uma
conexão que só eles podem entender.
Nas guerras dos jogos ou nos problemas
fora deles, nos MVPs arrancados a ferros ou nas doenças que chegam
pela calada da noite como a morte, respeitando as diferenças e não
forçando nada, a mais genuína das amizades, até ao túmulo.
E é já Ezra Edelman em 2010 a
preparar a obra-prima que chegaria com "O.J.: Made in America"
- do indivíduo por ele mesmo à sociedade inteira, do quintal aos
cinco continentes, da pequena história ao grande arco narrativo, da
fantasia ao real, da liberdade à moral como das leis à justiça,
tudo é uno e inseparável, complexo e complementar, como o branco e
o negro para o arco-íris completo; daí que um ser-humano é mesmo
um outro, culpas e redenções para cada qual.
Não há nada de simplismo televisivo
antes tudo de grandeza cinematográfica: a transfiguração e o
segredo, a inteligência e a emoção; montar, resgatar, fixar,
resvalar. Usar o arquivo é encenar tanto como filmar, tão fake ou
tão visceral como, assim como entrevistar é criar personagens - o
que se augura, como nos biliões de palavras de um Thomas Wolfe, é a
luzinha da verdade inegociável, essa chama inteira de repente, clara
e devoradora, dourada agulha no palheiro. Que num segundo ou em
vários é tão luminosa como um poema breve de Eugénio de Andrade.
A beleza é a verdade e a verdade é a
beleza, num triplo de Bird, num passe por detrás das costas de Magic
ou nas lutas de emancipação seculares e justas de todos os povos
conhecidos e desconhecidos. Belíssimo humanismo.
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