Felix E. Feist é mesmo dinamite, cepa que não engana, mais
um tiro certeiro do festival Cinema Ritrovato, poeira levantada de um baú enterrado
fundo demais onde valeu a pena sujar os olhos e a consciência. Mesmo com
argumentos vacilantes, trémulos de realismo e nexos inverosímeis entre
situações e personagens – que fariam o último master do script doctor ficar chocadíssimo
– a mise en scene e o choque magnético com a realidade é de vida ou de morte
instante a instante, seja um corpo esgaçado ou a parede de concreto falso que
impede a fuga. A fuga, mesquinha ou atómica.
E assim está no mesmo comprimento de onda e com a mesma
pressão essencial, na tal distância entre dois máximos consecutivos do campo,
cravados entre os fora-de-campo, de um Kendrick Lamar que cada vez que abre a
boca ou dispara um beat é para morrer se for preciso; ou do Kawi Leonard das
quadras de basket a dilatar o tempo diante dos olhos mortais na construção e
posse inata da beleza; a palavra definitiva seja ela qual for e a moral que se
tornou sagrada na existência do cineasta espanhol Víctor Erice.
Dos
filmes de 60 minutos que entre 1947 e 51 aproveitaram o templat do género noir
para documentar os limites da persistência da garra do passado e da marca a
fogo ferrado da memória, para lá do bem e do mal, para lá da argamassa mexida
da infância ou da convulsa edificação adulta, "The Threat", em confins e nos cárceres apocalípticos
de quem viu uma Grande Guerra pela televisão, nos campos de batalha, ou a
distender-se até aos passeios do quotidiano e da normalidade, é Raoul Walsh + Joseph
Losey, o meio natural fechado ao humano e o meio visceral que o cospe em redundância
incompreensível, isto é, em erro de redundância cíclica. Pequenos filmes,
brutais, sujos, improváveis, assustadoramente lógicos.
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