quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


A impossível liberdade total assim mesmo completamente autodestrutiva pode estar com Jacques Rozier no seu “Adieu Philippine”. Lá para trás de 50 anos. A plasticidade ali alcançada uma vez e só uma subverte completamente a verificação química da realidade que o cinema super usurpou à fotografia e afins, extravasa tudo isso, todos os processos e todo o adquirido, adquire vida própria e assim se faz animal irracional, imprevisível.

Aquela rapariga que eu não distingo da outra e que dança certa vez com Jean-Claude Aimini, o Alain Delon dos trolhas, faz algo que eu nunca tinha visto nem em cinema nem em coisa do género, pelo menos assim descaradamente, traindo-o, humilhando-o, deixando-o sem saber onde é norte e onde é sul e qual dos quatro ventos sopra por ali, e isto não com outro homem ou outra mulher de lá de dentro da tela, mas sim com o espectador que estiver a observá-los cá de fora, que estiver a olhar para ela, desejando-a. Oferecendo-se, oferecendo-nos, olhando para nós nos olhos, para mim, para si, suplicando-nos, platonicamente, animalmente, putamente, tudo e mais o demo em sinuosidades belas.

O que não é grave nem chateia o Aimini, não provoca nem escandaliza, e não tanto por ser tempo de nouvelle vague e tais devassidões, sim porque ali onde o mais alto e o mais baixo convivem e se dão bem, o sublime como as águas de Boris Barnet com as italianadas dançáveis, não se reconhece a semântica, conceito ou a moral da traição. Tudo lhes é permitido até ao céu ou ao inferno e amarras dessas não são validadas. Apanha-se um barco e ruma-se até ao próximo porto.

Pareceu-me ver aqui toda uma constelação a aparecer ou a reaparecer. Límpida. Pessoas, pedras, sol…

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