sexta-feira, 8 de agosto de 2014

 
 
“The Lawless” é a segunda longa-metragem de Joseph Losey, e é de uma complexidade que convoca de uma só vez a moral de Fritz Lang (o mundo moderno, a grande fratura e a justiça férrea) e o humanismo de John Ford (o mundo idílico, exemplar mas não menos duro, tão saudoso), entre muitas outras coisas (tempos e espaços e emoção) que seriam necessárias aprofundar para dar uma ideia, uma sensação do que se passa e explode pela tela – tão contidamente e tão explosivamente como só este grande cineasta conseguiu de modo próprio. Naquela terrinha da América como só ela também intrincada, entre ricos das aparências e pobres do campo, autoridades regradas e imprensa necessária, as oposições vão esticar a corda ancestral e espalhar uma ambiguidade nada linear. Então, dois pontos que julgo se entrelaçarem, substanciarem e se mostrarem cada vez mais importantes nesta demanda pela grandeza do homem que só idealmente encenada assim pode acontecer: 1) a implacabilidade do jornalista andarilho interpretado pelo impagável e aqui justíssimo Macdonald Carey, que leva até às últimas consequências o bem primordial que fareja e logo a profissão de fé que abraçou, poeta e guerreiro com o poder da palavra que não se coíbe do poder dos murros necessários, entrando por essa brecha a paixão que só pode ter correspondência na elevação dos actos; 2) onde pela profundidade de campo que não costuma assim ser contemplada nem sustentada, se dá o milagre que se espalha pela generosidade e certeza do que está em primeiro plano inspirado no que vai sucedendo nos fundos tão belo como – o primeiro beijo dos dois jornalistas (ela tão terna e celeste que só parece encaixar nele e nos que nada têm a perder) depois dos mimos paternos como testemunha e bênção; a consumação da amizade e ligação entre o jornalista e o falso culpado, ele no carro a velar por um bom regresso a casa. Portanto, ao reinventar ou ao descobrir a maneira cinematográfica única para cada evento, é o amor dos Homens e o amor do seu ofício que se poe à mesma altura, sem margem para dúvidas. Foi obviamente Losey que num dos seus filmes posteriores – “Boom “ - meteu alguém a dizer o que sempre perseguiu: "o choque de cada momento de ainda estar vivo", e é entre a inteireza e a obsessão que tamanhos propósitos são buscados pelas sendas da plenitude. Num tempo e numa prática do acessório, da vaidade e do arrivismo, da caça ao prémio e ao sofá do conforto, urge regressar ao essencial. Tudo ou nada.

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