Filmes:
- Richard Jewell (Clint Eastwood)
A verdade é a verdade, sobretudo nestes tempos de decadência dela. Tão Langiano nesse aspecto férreo do que está certo, «o que é, é», forma e conteúdo consonantes, como a planar na leveza humanista e formal dos últimos filmes de Jean Renoir, a planar no amor de Mães e Filhos.
- Portrait de la jeune fille en feu (Céline Sciamma)
Rimas infinitas em fogo, música e carne e água; carne, música e água e fogo, corpo uno e vibrante; e uma câmara forte e trémula a ousar a frontalidade abissal; espantada na fusão primordial dos elementos criadores.
- The Last Dance (Jason Hehir)
Regresso à Odisseia, porventura, e como sempre, pela derradeira vez: Homero e Jordan, irmãos de sangue. Ainda: Jodan, the great American novel.
- J'accuse (Roman Polanski)
A civilização é sempre um tolo-lúcido contra a podridão do sistema; quanto mais lúcido, mais tolo, mais certo.
- Dark Waters (Todd Haynes)
Outra demanda pela verdade onde se constata com clareza clínica e clássica que este nosso mundo / tempo anos 2000 (plasticamente feio, fotograficamente de filtros avessos) degradou e envergonhou o Inferno Dantesco.
- Le Sel des larmes (Philippe Garrel)
Não se enfrenta a lua, olhos nos olhos, impunemente; nem com as costas quentes pelas novas tecnologias.
- It Must Be Heaven (Elia Suleiman)
Mesmo que possa ser um pouco «filme para festival»: Alguém ainda a acreditar que a borboleta de Griffith pode ser um rosto.
- The Devil All the Time (António Campos)
Película a queimar, montagem de choques e invisível, cores das coisas e do seu oposto perfeito; o diabo eterno das regiões possuídas da terra e da mente fundida em emulsão certa.
- Sério Fernandes - O Mestre da Escola do Porto (Rui Garrido) / - Para Cá do Marão (José Mazeda)
Mas ou por causa das fragilidades: o prazer de ver humanidade íntegra e com princípios (vitais ou mortais), puros ou complexos, que é o mesmo.
Pior:
- Nuestro tiempo (Carlos Reygadas)
Pretensões ultra-Kubrickianas vácuas; violações, incestos, apocalipses: cinematográficos, familiares, civilizacionais, etc. Humilhações básicas.
(Re) descobertas:
- The Avenging Conscience: or 'Thou Shalt Not Kill' (D.W. Griffith)
Meter em grande-plano o que tem de estar em grande-plano; e os fantasmas também.
- Stroszek (Werner Herzog)
Anti-Reygadas: fôlego cósmico em transgressão e intimidade: poesia na prosa, prosa na poesia, poesis primeva. Gigantesco e cifrado de 2001 - Odisseia no Espaço, nos quartos de Griffith.
- The Rough South of Larry Brown (Gary Hawkins)
«You must kill all your darlings»... caso contrário, a metamorfose para um The Devil All the Time; deus sem freios.
Livros:
- Gente Acenando para Alguém que Foge (Paulo Faria)
Cormac McCarthy + Jack Kerouac + a infinita lava ultra-vulcânica das paixões vertidas no papel em tinta de sangue animalesca / hagiográfica / pura.
Discos:
- Goela Hiante (Adolfo Luxúria Canibal + Marta Abreu)
Palavras arcaicas, descarga eléctrica em parto.
Exposições:
- Do not go gentle into that good night (Hélder Castro)
Incomensurável filigrana; antes da civilização e depois do apocalipse, imperturbável.
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