quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Top 2020



Filmes:

- Richard Jewell (Clint Eastwood)

A verdade é a verdade, sobretudo nestes tempos de decadência dela. Tão Langiano nesse aspecto férreo do que está certo, «o que é, é», forma e conteúdo consonantes, como a planar na leveza humanista e formal dos últimos filmes de Jean Renoir, a planar no amor de Mães e Filhos.

- Portrait de la jeune fille en feu (Céline Sciamma)

Rimas infinitas em fogo, música e carne e água; carne, música e água e fogo, corpo uno e vibrante; e uma câmara forte e trémula a ousar a frontalidade abissal; espantada na fusão primordial dos elementos criadores.

- The Last Dance (Jason Hehir)

Regresso à Odisseia, porventura, e como sempre, pela derradeira vez: Homero e Jordan, irmãos de sangue. Ainda: Jodan, the great American novel.

- J'accuse (Roman Polanski)

A civilização é sempre um tolo-lúcido contra a podridão do sistema; quanto mais lúcido, mais tolo, mais certo.

- Dark Waters (Todd Haynes)

Outra demanda pela verdade onde se constata com clareza clínica e clássica que este nosso mundo / tempo anos 2000 (plasticamente feio, fotograficamente de filtros avessos) degradou e envergonhou o Inferno Dantesco.

- Le Sel des larmes (Philippe Garrel)

Não se enfrenta a lua, olhos nos olhos, impunemente; nem com as costas quentes pelas novas tecnologias.

- It Must Be Heaven (Elia Suleiman)

Mesmo que possa ser um pouco «filme para festival»: Alguém ainda a acreditar que a borboleta de Griffith pode ser um rosto.

- The Devil All the Time (António Campos)

Película a queimar, montagem de choques e invisível, cores das coisas e do seu oposto perfeito; o diabo eterno das regiões possuídas da terra e da mente fundida em emulsão certa.

- Sério Fernandes - O Mestre da Escola do Porto (Rui Garrido) / - Para Cá do Marão (José Mazeda)

Mas ou por causa das fragilidades: o prazer de ver humanidade íntegra e com princípios (vitais ou mortais), puros ou complexos, que é o mesmo.


Pior: 

- Nuestro tiempo (Carlos Reygadas)

Pretensões ultra-Kubrickianas vácuas; violações, incestos, apocalipses: cinematográficos, familiares, civilizacionais, etc. Humilhações básicas.


(Re) descobertas:

- The Avenging Conscience: or 'Thou Shalt Not Kill' (D.W. Griffith)

Meter em grande-plano o que tem de estar em grande-plano; e os fantasmas também.

- Stroszek (Werner Herzog)

Anti-Reygadas: fôlego cósmico em transgressão e intimidade: poesia na prosa, prosa na poesia, poesis primeva. Gigantesco e cifrado de 2001 - Odisseia no Espaço, nos quartos de Griffith.

- The Rough South of Larry Brown (Gary Hawkins)

«You must kill all your darlings»... caso contrário, a metamorfose para  um The Devil All the Time; deus sem freios.


Livros:

- Gente Acenando para Alguém que Foge (Paulo Faria)

Cormac McCarthy + Jack Kerouac + a infinita lava ultra-vulcânica das paixões vertidas no papel em tinta de sangue animalesca / hagiográfica / pura.


Discos:

- Goela Hiante (Adolfo Luxúria Canibal + Marta Abreu)

Palavras arcaicas, descarga eléctrica em parto.


Exposições:

- Do not go gentle into that good night (Hélder Castro)

Incomensurável filigrana; antes da civilização e depois do apocalipse, imperturbável.


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