segunda-feira, 27 de junho de 2011



Jimmy Ringo, o pistoleiro mais temido do velho oeste do tempo das lendas. Mais ainda do que Wyatt Earp, Billy the Kid ou Wild Bill Hickok, diz a legenda que apresenta "The Gunfighter" de Henry King, e diz cada alma que passa pelo filme. Jimmy Ringo, belo Gregory Peck que o bigode e a poeira do tempo e dos duelos procurados e não procurados já apaziguou, já envelheceu. Gosto do título português, "O Aventureiro Romântico ", pois apesar da negrura do filme e do tom de fim de tempo e desilusão, promessas quebradas, o que o faz ainda mover é a coisa mais bonita do mundo, aquele bandido mais bárbaro que o pior dos bárbaros (dizem eles) nunca deixou de amar uma mulher. Lirismo abafado entrevisto olhos adentro.


Apenas umas bebidas e já nem isso.

Henry King vai apanhar Ringo no ponto mais alto da sua lenda em vida e portanto da sua bifurcação. Um filme em urgência e fechamento totais, tanto quanto a terminal música inicial sugere. Um rastilho. Da boca em boca às histórias em segunda ou terceira ou muitas mãos ou às bandas desenhadas ausentes o mito está consolidado. O mote é tão áspero e seco como o de "Rio Bravo", as tais duas linhas. Ringo já só quer descanso e ir ter com a tal mulher, mas um dos incontáveis palhaços estúpidos daquele mundo vai querer ter os seus minutos de fama e vai puxar da arrogância e da arma. Quase o filme não começou e tudo já está em jogo, o tempo urge e vale ouro.

King já a falar-nos da sociedade do espectáculo em que é preciso criar heróis para logo os destruir. King a falar-nos de vedetas, vedetismos e invejas. A imagem fria, inteira e perfeita do ícone oposta ao turbilhão interior do verdadeiro homem. O nojo da idolatria em que não se vive antes sobrevive. Inocência perdida, crianças histéricas.

Os ecrãs e as massas de Fritz Lang. O circo e a televisão de "The Last Hurrah". ...hoje em dia?

A modernidade deste imenso cineasta está em nos levar aquele mundo tão aparentemente codificado e fazer espelho com os dias de hoje, no mais improvável o mais provável. Amargo espelho como tão amargos são os respirares de Ringo, os seus olhares tristes e crispados de quem já não espera nada dos homens e da sua bondade. Amargo preto e branco esculpido, pesaroso preto e branco. E amargas forma que impreterivelmente clássicas, impreterivelmente justas ao que olha, são simultaneamente o reflexo, o palco e o gatilho de toda a decadência a que a civilização dos valores, da arte, do mundo em si se afirmaria. O desgosto de tudo isto, plano a plano. A cada plano, mais dor.

Tão insípido como o encontro com o filho que também ama, como as promessas perdidas, o acto final revelador do estado das coisas.

Velhos sábios fizeram-nos ver e se a palavra realmente existir, únicos modernos.

domingo, 19 de junho de 2011

Le Salaire du zappeur




Cinemateca de Babel ou cinemateca de Alexandria? Cinemateca necessária ou cinemateca das necessidades? Cinemateca do povo ou cinemateca das embaixadas? Cinemateca dos vândalos ou cinemateca da carteira da tia? Cinemateca "front line" ou cinemateca "online"? Cinemateca do liceu ou cinemateca do museu?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pergunto-me mesmo se os anos oitenta, cinematograficamente tão ocos, não tiveram como verdadeiro cinema e como heróis sedutores os Borg, Connors, McEnroe e Lendl, os únicos que souberam destilar o tempo e que deram lições de ver a uma geração inteira. Fiquei sempre surpreendido quando amigos meus ficavam surpreendidos com a minha capacidade de escrever sobre o ténis, como se lhes quisesse mal por não compreenderem que se trata absolutamente da mesma coisa que o cinema, ao menos o velho cinema, o da mise en scène, da topografia. Não era preciso empurrarem-me muito para que encontrasse passing-shots em Fritz Lang e inserts em Miroslav Mecir.


Serge Daney, Persévérance
 
Abraço, Felipe

terça-feira, 14 de junho de 2011





...esse romantismo rebelde desmesuradamente solitário.
de longe muito longe para longe muito longe.
num eterno instante, um hiato.
perene efêmero, irmãos,
terras castanhas de sonhos e crianças, montros e pesadelos, deformações e beleza plena,
uivos e disparos e desejos incontroláveis, ervas flutuantes,
águas límpidas, anões, mitos, verdades ofuscantes e cavalgadas novamente imperiais,
duelos e ciúmes,
vestes brancas ao vento como os cabelos loiros ao vento,
canções ao relento essa luz cristalina e impronunciável,

panorâmicas gizadas a fogo, serenas contemplações sem termo,
Hellman do cinema da estrada lado nenhum, Hellman das aventuras infantis e depois consciência,
mesma coisa.

segunda-feira, 13 de junho de 2011





...esse romantismo rebelde desmesuradamente solitário. Walsh. coração do americano cinema clássico. coração homem. herói pelos vales e montanhas essa aridez das batalhas. da vida. andante que tanto anda não pára. cavalgadas intempestivas. cavaleiros torres acima. mulher contra-campo mulher igualmente tudo. poços sem fundo das obcessões. sóis e dilúvios. aconchegos, acossamentos. esse monumento pequeno rasurado arancado cinzelado aos fundos abissais dos negros medonhos cinzas demais brancos. ultra moderno. tempo elidido.

quinta-feira, 9 de junho de 2011






3. A arte da mise em scéne não era- como se acreditou, de forma leviana- panacéia universal ou meio privilegiado de fazer cinema. O exercício da mise em scéne é também a expressão de uma falta, uma carência ( un manque): suscitar em torno dos personagens, encerrados em sua solidão, vítimas de suas diferenças, um espaço que fosse sua prisão comum: arquitetura dos vazios, onde o vazio ameaça. A “fascinação” exercida pelos filmes de Preminger é o efeito desta distância que procuramos reduzir o máximo possível, até se confundirem olhar e coisa olhada. Mas esta confusão- que seria a proximidade máxima- está fora de questão ( a não ser, como aparecerá mais adiante, na morte, na destruição,o Apocalipse). Mas esta confusão- esta coesão- é também o papel do artista: a abolição feliz das diferenças, a comunicação restabelecida, o corpo-a-corpo assumido.






domingo, 29 de maio de 2011

Cinemateca

Administração maravilha,

missa higiénica

de grandes palavras de recuperação,

embaixadas e shatz,

tudo regulamentado,

à frente liceu,

atrás museu.

M.F.

quinta-feira, 26 de maio de 2011



Se a ideia de enviar "The Flying Leathernecks", o sumptuoso campo de estilhaços, violações e possibilidades, em que Ray envolve os homens do filme e nos envolve a nós - magníficas explosões magníficos corações - para um dito moderno ou experimentador como Michael Snow ou os restantes deste mundo, não só permitiria pôr a nu a farsa, como perceber como Ray estava, sempre esteve, muito mais à frente e de forma insconciente e generosa - só com a sede e o desejo que queima e tudo estremece de dentro e para fora vice-versa - do que todos esses ditos experimentos sobre o palpável e a organicidade da matéria. Em Nick tudo se subjuga à emoção e a essa verdade de cada instante, emoção e verdade de cada um. Urgência. Coragem. Liberdade. Tão enorme e tão pequeno. Tão artesanal. Se possivél, na cópia exibida ontem pela Cinemateca, linda, imperfeita e assim mais do que perfeita.

Às vezes, o uso da cor prenuncia We Can`t Go Home Again com as manchas de encarnado e amarelo (fogo) a invadirem o écran, cobrindo a tela das mais insólitas tonalidades. E Nick Ray é soberanamente indiferente a qualquer preocupação de "raccord" de cores ou de luzes. Passa-se do dia à noite, do fogo à floresta, do mar escuro ao mar azul, sem qualquer justificação temporal ou espacial, pela simples vontade de excesso e desarmonia. Visto deste ângulo, The Flying Leathernecks é um nunca acabar de surpresas e é certamente uma das insólitas utilizações do technicolor, alguma vez tentadas.

JOÃO BÉNARD DA COSTA

terça-feira, 24 de maio de 2011




"je ne peux pas être ridicule car je suis deux choses qui ne peuvent être ridicules: un enfant et un sauvage."

Paul Gauguin



quarta-feira, 18 de maio de 2011

...tenho quase a certeza - enfim, cheira-me - que a estrada do "Road to Nowhere" do Monte Hellman é a mesma que a do "Detour" do Edgar G. Ulmer...longe, bem longe portanto, da Mulholland Drive, mesmo com os possíveis atalhos...
para jamais esqueçer:


- O sino e o pátio e o resto que de alma se insufla e que começa a falar para nós no belíssimo e Fordianissimo "Río Escondido", do mexicano Emilio Fernández. Outro ascético das terras e dos céus e dos corpos e rostos como o de María Félix. Outro que vai até aos limites dos negros que se volvem brancos ou vice-versa. Outro crente, outro que não deixou filhos...

- O scope que tudo absorve e leva à frente, as cores que queimam e que gelam no "The Cardinal" de Preminger. A geometria do caos, como disse o Mário. Os pretextos narrativos para se fazer um mapa de viagens e de absurdos e de bojardas. Um padre nos cabarets, John Huston a cardeal e uma sequência no mar irmã de De Mille...O tipo de coisa que hoje Hollywood fugiria a sete pés.

- "Esther and the King", 1960, Walsh. Igualmente a arte do scope e das cavalgadas até aos infinitos qual "Persued". As cores e as poses da guerra e as cores e as poses do erotismo.

- A necessidade vital dos óculos e dos socos à "They Live", do Carpenter.

- O documentário sobre um corpo e sobre uns lugares que é "Boudu sauvé des eaux". O seu amadorismo onde a realidade arde e é logo outra coisa, coisa poética e bruta. Comovente e aterradora. Portas que se abrem, fúria sonora que ensurdece. Primeiro grau. Inocência que desmascara o que depois as novas vagas e os "cinéma vérité" iriam propor como a vida contra a ilusão. O lirismo e a dureza das ruas, arestas expostas. Elo de ligação a Rossellini, sei lá....

festival internacional de cinema independente 2011

9 Filmes Financiados pelo ICA premiados no Festival Indielisboa.

...gaba-se o mesmo ica no seu site...será isto o verdadeiro significado de dialéctica, essa maravilhosa palavra?

...a importância estará em festival, em internacional ou em independente?

...ou em 2011, a tal urgência da contemporaneidade?

...serão todas essas vedetas, subsidiados, bolseiros, escritores, publicitários, especialistas...os verdadeiros realizadores sem dinheiro...serão realizadores?

...vamos continuar a ir na tanga dos radicais que gastam por dia num director de fotografia muito mais do que qualquer filme poderia custar? muito mais do que milhões de pessoas tem por mês ou por ano para comer?

...vale mais um filme curto do Luc Moullet do que o resto todo junto? chama-se "Chef d'oeuvre?" e pelo título e pelo que lá se passa estamos conversados...

terça-feira, 3 de maio de 2011



Resplandecências...de Cecil B. DeMille.

Reap the Wild Wind (1942)


Momento Young Mr. Lincoln, momento Juiz William Pitsman Priest, momento Frank Skeffington, momento Sargento Rutledge...e tantos mais poderiam ser:

"Eu...Não nego, Senador, que você...deixou-me sem fala. Creio que me havia acostumado a...ser ouvido neste estrado. Por Deus, praticamente fui criado neste tribunal. Quando deixei de lutar em 65...pelo que achamos justo...acalmei-me...e vi que não podia vencer em todo os Estados Unidos. Regressei aqui, à minha cidade natal. E abri um escritório de advocacia. Em pouco tempo estava sentado nesse estrado. Talvez aspirasse ao espírito da lei...e não só a letra...mas até onde sei, jamais se haviam queixado...até agora. Vocês, o jurado...esqueçam tudo o que eu disse. Os meus sentimentos não tem lugar...nas atas deste juízo. Agora, se me desculpam...e se não há objecção das partes...gostaria de pedir ao honorável Floyd Fairleigh...que subisse aqui...e tomasse...o meu lugar no estrado."

John Ford, o maior dos cineastas.

"Judge Priest" é como tantos outros filmes de Ford, uma série de delirios narrativos, um desfilar de singelezas, lugares perdidos da infância, uma bela acumulação de alegrias, tristezas, nascimentos e fins. Um despreendimento total, tal como "She Whore a Yellow Ribbon", o filme a vermelho, era sobre o altivo capitão Wayne que olhava para o reléogio e nesses hiatos não dava tréguas. Pode ser e é uma coisa seríssima, o retrato de um homem honesto que não embarca em artimanhas nem em golpes baixos para ser reeleito – tal como depois "The Sun Shines Bright", a mesma retidão e jouissance – e que tem o coração mais puro do mundo. Ajuda o sobrinho advogado no seu primeiro caso e vai até às últimas consequências para a justiça ser feita. Mas, porra, momentos supremos saõ aqueles em que ele se lembra da sua juventude e faz de tudo para o rapaz conquistar a rapariga que ele quer. A reforma pode estar perto, a inocêcia de puto, jamais. "Judge Priest" pode ser um drama, melodrama, comédia, filme ultra romântico, musical, filme de guerra, filme de tribunal e tudo o que quisermos ou não quisermos, isto é, se nos lançarmos "apenas" na grande aventura do cinema e fruirmos...a palavra lancinante para qualificar tal humanismo é escandalosamente insuficiente. Até aos ossos.


segunda-feira, 2 de maio de 2011


Acto de penitência. Falo de Elia Kazan, falo de "Wild River". A primeira vez que o vi não consegui sentir a pulsão e a virulência de um "On the Waterfront" ou de um "East of Eden ". Até irritado fiquei com algo que entendi mais engajado politicamente do que do lado das pulsões afectivas que sempre me fascinou no universo deste para mim tão grande cineasta. Revi-o, descobri outro filme. Abre com trombas de água que tudo levam à frente e reduzem a nada. Fecha em altas temperaturas, num fogo que consome matéria e memória. Igualmente, grande gesto sobre a memória. Descobri a subversão de tudo aquilo, um conto perfeitamente singular. Entre as àguas e o fogo a mais bela e inaudita das histórias de amor, a passagem e consumação de um estado ao outro. Entre as àguas e o fogo, o imenso scope e o technicolor elegiaco, tratado com uma contundência e delicadeza dramática e compositória que não tem muitos paralelos. Mas o modo como Kazan rasga a narrativa em que Montgomery Clift – tão forte e tão frágil como os seus habituais protagonistas ou os de Nicholas Ray – o empregado de uma empresa de àguas que tem que convencer uma velha que dizem senil e teimosa a abandonar a terra para que tudo inundado seja, para o pogresso acontecer, como ela diz, o modo como tudo isso a certa altura é deixado em suspenso e em eco porque o tal empregado se perdeu de amores pela igualmente fragilíssima Lee Remick, correspondendo essa paixão a uma salvação e ao expurgar de demónios interiores e recalcados - mais da parte dela mas também dele - e consequentemente à compreensão e execução dos seus objectivos, é qualquer coisa de muito grande, essas raras alturas. De uma assentada que imagino feliz e dolorosa, Clift vai compreender a velha Jo Van Fleet, entender que se ela deixar de sentir os pés por debaixo daquelas terras, assentar-se naquela varanda ou dali olhar o rio, morre. Vai compreender que é uma questão de dignidade. "Eu compreendo-a, Sra. Garth. Eu sei exactamente pelo quê está a lutar.É pela sua dignidade. Eu sei!". Foi preciso ficar muito bêbado de whiskey e muito bêbado de amores para que tudo fizesse sentido. Jo Van Fleet irá deixar a terra, já não por vontade de Clift mas sim dos mafiosos. Obviamente morre, com a mais alta das dignidades. Voltemos a Clift e a Remick, o mais comovente e lindo par dos filmes de Kazan, olhos e caras e gestos tão tristes e tão perdidos e tão desiludidos, e é porque ele, na fabuosa sequência do cemitério a traz à razão e a faz seguir a vida, a maneira como lhe demonstra que ela só ali resiste porque tem medo do passo em frente e se sente aconchegada - "Não pode deixar uma dificuldade arruinar a sua vida inteira.(...) você precisa levantar-se e ir atrás do que lhe interessa." - que casar com quem não ama é o mais estupido dos erros. Ele que a princípio não se quer comprometer, porque possivelmente esse homem de passado obscuro já se esqueçeu de como se ama uma mulher apesar de romântico chamado, ela que cuida dos filhos como da coisa mais preciosa do mundo se deve cuidar e que tudo o que interessa voltará a reviver. E tudo acontece por aí, ao salvá-la a ela e ao fazê-la regressar à sua casa que pensava estar assombrada, salva também Jo Van Fleet, melhor, faz-la perceber os bons sentimentos e sentir que o par e aqueles trabalhadores que também de lá sairam, recuperaram o brilho nos olhos e reencontraram o sentimento vivível da vida.


Filme outonal, de um lirismo suave, morno, chekhoviano, uma serenidade ameaçada pelo crepúsculo e pelo fim, tudo pictoricamente em sublime comunhão com o fundo, nesses castanhos e amarelos e azuis, nesses nevoeiros que velam os espaços e as gentes e lhes reforçam auras fantasmáticas, retrato franco e humilde e nobre dessa américa do não espectáculo, "Wild River" é um dos pontos máximos do amor às origens e do amor dos homens. Amor como possibilidade de todas as redenções e de todas as mudanças.

domingo, 1 de maio de 2011

thrillers, action, movies...Cinema

«Farsa perpétua! A inocência dar-me-ia lágrimas. A vida é uma farsa com papéis para todos»

Rimbaud




Dois impressionantes filmes de John Ford vistos recentemente trouxeram-me, como sempre, uma série de coisas, de questões. Só à primeira vista serão dois filmes atípicos de Ford , três até, mais... "The Hurricane" e "The Prisoner of Shark Island" são histórias em que o protagonista se encontra preso injustamente, condenado, mas tragédia das tragédias ou fatalidade, a natureza libertária deles - muito mais em Hurricane - jamais os farão aceitar tal estado. O Jon Hall de Hurricane é como Rory Calhoun, o Gaucho de Tourneur, ou esse Kirk Douglas da mesma familia no "Man Without a Star " de King Vidor, o que odeia as cercas de metal e no corpo as tem marcadas para sempre. Tem o ar e o sopro indomável do vento e a água e o fogo e o desejo de tudo sentir tudo percorrer tudo viver amar no sangue. Ficar encurralado é o seu fim e irá até ao fim do mundo e dos sacrifícios para se desamarrar. Custe o que custar, quantas vezes forem precisas. Sangue derramado, que importa... Rimbaud, sempre Rimbaud o andante. Os livres contra os instituídos, a selva contra a lei, o animal contra o “civilizado”. Espaço sagrado que urge manter contra o espaço opressor que é preciso estilhaçar. Obras de resistência a rótulos ou a gêneros – assim são os grandes - poderiam ser chamados thrillers pelos ávidos dos engavetamentos ou pelos académicos da mais indizivél das artes ou dos jornalistas de cannes que têm que enviar a página para o dia seguinte. Porque se há efectivamente acontecimentos narrativos, arquetipos até, personagens e velocidades que depois os chamados mestres da acção e do espectáculo iriam banalizar e estupidificar até ao insuportável e ao rizível, dizendo-se herdeiros, esses judas que dizem entregar à plateia o que elas querem. Um pouco banal e desistimulante quando contado, sumptuoso quando visto na imensa sala. Numa grande produção de Samuel Goldwyn, filme catástrofe desejado para o monumental e o circo, o que fica são corpos maciços e graciosos e desejáveis e volupteis, vontades, paixões e intimismo. E, claro, o esplendor da criação e das suas manifestações. Ford é obviamente doutra dimensão, de outro saber e de outra graça. Mão de aço e delicadeza de poeta pintor. Filme de belezas e inocências incandescentes do lado do seu amigo Hawks de "Today we live", aqueles belos passeios e amores sem nome, aqueles paraísos perdidos onde tudo é ainda possível e nada foi ainda corrompido. Adão e Eva. Tal como as subidas nietzscheanas e transformadoras do "Sargento York" aos cimos das montanhas que com o céu correspondem. Desconfio que é nesse nublado nesse meio caminho entre terra e etéreo que tudo pode ser claramente visto. A questão é que ali, naquela ilha e naquelas águas palmeiras sol e o resto, não há lugar para a farsa e os nativos-crianças só nisso sabem viver. Ford também não conhecia os truques e os códigos e se os sabia – e sabia concerteza – só do mundo porque homem do mundo se utilizava, mundo dos homens e mundo original, mesma coisa, imagens e sons. Mais nada que não um filme que só pelo real e pela poesia transfiguradora pelos sentimentos equidade esse amor a certos seres e certas coisas nos mostra e faz sentir tudo o que necessário é nesta terra. Violência, ternura, apocalipse, erotismo, acalmia, utopias, esperanças, sacrificios, romantismo, fé.
 

 

"The Prisoner of Shark Island" é parecido, à superfície, muito à superfície, com os tais action movies de evasão que hoje em dia a máquina hollyoodiana ou mesmo os autores respeitáveis tentam fabricar com tanto barulho que chega a ser tristemente cómico, mas o que temos em Ford é a profundeza e a implacabilidade da verdade contra a máquina trituradora da falsa justiça e da mentira. Tudo se reverte passado o calvário, mas o traço memória fica. E Ford chega ao transcendental pois a angelical e terrível luminosidade daquele meio está em compromisso de sangue com Warner Baxter, o doutor que caiu em desgraça e que nada de mal fez, aliança-luz contra os criminosos, aliança-luz contra os que do cinema se servem como brinquedo ou, muitas das vezes pior, como audiovisual. Luz-guia. Luz-desbloqueadora. A mesma força poética que o Condenado de Bresson. Não há quem os pare, aos nobres e aos de bom coração, esses perdidos de amor, desprendidos, conciência em paz. As grades arrebentam-se, os polícias tombam-se, os tubarões vergam-se, o mar encurta-se como se encurtava e se vencia na sequência do outro mundo em que o Jon Hall de Hurricane atravessava todas as forças circundantes porque se sabia amado e com razão, momento irmão do “Tabu” de Murnau e de Flaherty, a incontrolavél e vulcânica furia da natureza domada com a força interior essa chama unica do amor pela vida todas as promessas .



Falei num terceiro, lembrava-me de "The Informer", essa espécie de menino-gigante vivido pelo tocante Victor McLaglen, tudo muito simples, tudo extremamente complexo. McLaglen, o que diziam não ter cérebro mas só músculos, o bêbado, tem imenso carinho por uma bela e o vislumbramento do abismo e da perda fá-lo tremer e trair o amigo. Denuncia-o e ganha muito dinheiro e muitos sonhos. Engano, são os pesadelos que irrompem. Faz sem a consciência do acto e fica emocionalmente estilhaçado. Arrependido até aos ossos. Mais um filme-luz, essa luz divina como o “Hurricane” ou o "The Long Voyage Home", essa luz que dos altos brota e queima e só pode querer dizer qualquer coisa da ordem dos mais profundos mistérios de tudo isto, maquetes-mundo ou mundo-maquetes cerração vibração deste eterno que nos ultrapassa, ou...É preciso muita generosidade para acolher assim um homem e para o compreender, quem vir nisto mais um filme de fugitivos, action... é porque nunca viu a vida amor pela mulher o cinema. Claramente ou escuramente insondavél.
 

Não há género pois as dialécticas e os embates: leis-libertos, místicos-políticos políticos, amor-frieza e a singularidade de cada homem em fundo com o aprisionavel mundo esse destino, leva os filmes para o terreno da vida logo questão vital. Última adenda: será “Steamboat Round the Bend “, um dos cúmulos de todas as artes, um filme sobre corridas de barcos? Panfleto humanista? Jamais...é o supremo elogio às maravilhas liquidas e às suas envolvências, ao glorioso mississipi simbolo de todas as águas e de tantos heróis, navegantes, capitães e lobos dos mares, ode às imperiais máquinas que as atravessam, num maravilhoso que vai de Grifith a Walsh ou Tourneur, Lord Jim, Julio Verne, ou aos grandes pintores idilicos de tudo isso, Manet, Corot, Wyeth.




Oposto horrendo de tudo ou quase tudo o que hoje se faz, em que reinam os efeitos sobre o que originalmente existe, onde a cinefilia atrocida a carne e o suor e as veias, onde as superfícies e as linguagens aniquiliam uma arte onde todas as possibilidades, qual Griffith qual Murnau Ford, estão em aberto esse cinematógrafo ávido para que assim o utilizem. A verdadeira ilha de Hurricane hoje erguer-se-ia às mãos de um geniozinho engenheiro de informática; Ao erotismo daqueles corpos em que rasgos carnais se entrevêem, a nudez pornográfica do tudo; À fisicalidade que nos estoura pelo olhos, esses mesmos rostos e corpos embelezados pela publicidade. Aos timings e à duração sufocante, a montagem milésimos de segundos “eu sou o maior”; aos nevoeiros místicos essa luz quimérica procurada na paciência e na crença, os efeitos premiére automáticos; ao tempo de cada coisa per si, o digital de aceleração; ao hipnotismo dos desertos de "The Lost Patrol", filtros e mais filtros. A homens H grande, bonecos digitais. Ao plano fixo atordoante ou sereno que persiste e revela, a dispersão inconsciente das gramáticas das escolas de cinema ou da contaminação televisiva. À cristalina legibilidade, contemplação, presença, pressão, a masturbação dos zooms esse atrofio que tudo quer penetrar. À justa distância e à multiplicidade de modulações, a excitação de querer estar sempre por cima e numa uniformidade higienizada. À aspiração museu, a aspiração taberna. Dramaturgias e sinuosidades e linhas quebradas esqueçidas pelas acumulações de climaxs ou de "acontecimentos criativos" desenhados pelos criativos.
O panteísmo esses arcaismos contra os ecrãs de computador plasmados nas outrora magníficas telas. À vida de todos e aos deconheçidos zonas escuras medonhas raridades, o aconchego da rotina e do sofá.
À câmara para o homem, a câmara para o "actor". Às explorações e às aventuras e aos altos baixos, a cadência e a lógica idiota dos argumentistas. Ao vento nas árvores, o vento brilhante no cabelo das stars. Aos olhares fixos ou profundos ou perdidos, os olhares nada essa improvisação nada cumprimento de horários. Às elipses e aos inimagináveis, a linha recta ou a fragmentação pastilha elástica fogo de vista. À 40 anos, 50 anos, 60 anos, 70 anos...mais, já Ford nessa depuração e nessa desmesura pictórica e sonora limpava a estrumeira que há decadas invade as peliculas e consequentemente todos nós.

“Faz um movimento de câmara como se rezasses uma oração”, palavra de Godard. John Ford – quadros, composições, texturas, esse orgânico esses brilhos. Orações. Silêncios e comoções.



Penso num cineasta que muito admiro, Martin Scorsese, cujo "Shutter Island", para além de um museu de cera onde nada realmente mexe, nada mesmo, nem um cigarro, mesmo com os esgares e os esforços de um actor tão potencialmente acossado como Leonardo Di Caprio, só através de um impressionismo formal, uma vaidade, uma auto genialidade de mise-en-scène, de um barroquismo gritado e falso ou de recursos a efeitos especiais plásticos e feios, longe de qualquer artesanalismo, consegue parecer o que não é. Pode encher o olho, jamais a alma. Fala-nos de coisas parecidas com os filmes citados, mas ao contrário desses está orgulhosamente protegido pelo género e pelas convenções e pelo convencimento, sem vontade nenhuma de os fazer explodir. Pense-se ainda em filmes de Fuller, como "Shock Corridor", e acho que estamos conversados. Filme de cinema no pior dos sentidos, festival de cinefilia e de sinais mil vezes utilizados, essa consciência. Só os truques ficam.


Thrillers, action, adventure, movies... suspense, cataclismos. Filmes menores porque temas menores? Nada de menor quando se capta esses sentimentos esse todo assim. Ford como Hitchcock como Walsh Hawks, tantos outros, tudo tocaram todas as direcções, todos os trilhos as vidas de todos nós. Cinema total quantas vezes totalmente sem rumo porque ao nosso lado, do lado da cadeira em que a luz passa por cima de nós e se vive nesses magnificos ecrãs.

segunda-feira, 11 de abril de 2011



"Wolfram", de Rodolfo Pimenta e Joana Torgal é, arrisco dizer, o único filme contemporâneo a reter no Panorama – 5º Mostra do Documentário Português. O único grande filme, com certeza, dos que não caem na armadilha do facilitismo e do informe, dos que dispensam os discursos justificativos e caucionais dos seus autores porque protegidos pela violência das formas, verdadeira questão. Aquele que perdurará à implacável selecção do tempo. Tempo, esse magnifico escultor como este filme é um filme que se esculpe. Cineastas do tudo ou nada, cineastas escultores. Com poucos ou nenhuns meios além do absolutamente essencial, a câmara e o tripé, obviamente, sem luz artificial que não a dos mineiros, adivinha-se, "Wolfram" surge-me como um objecto genuinamente pobre que vai recuperar essa quimera perdida da ontologia pura da máquina que filma sobre a qual Jacques Rivette tão obsessivamente escreveu, ao mesmo tempo que injecta uma força que tanto tem a ver com esse lado primeiro e selvagem como com algo abalador que parece vir de lado nenhum e que só em pacto com o visceral mundo que capta assim se moldou.

Minas da panasqueira, foi nesse lugar desmesurado e tão distante dos grandes centros de cinema e de vida das modas que os dois cineastas artesãos se instalaram e tomaram conta do campo, literalmente e em todos os sentidos. Gesto essencial essa familiaridade, esse hábito aos espaços, ao tempo, costumes, clima, máquinas, gentes.

"Wolfram" do título é o que daquelas minas se extrai e o filme antes de descer às trevas e às altas temperaturas começa do lado da ciência, ainda cá em cima, frio e branco e azulado, com os gestos rápidos e clínicos das mãos que o depuram, as balanças que o pesam, provetas, batas, enfim, todo um manancial de finalização e de controle que seguidamente será completamente posto em pó.

Muito seguidamente, porque logo essa pequena, humilde e tão potente câmara vai descer lá para baixo, muito muito baixo, e travar um combate brutal e mano a mano com a espessa matéria que surge como centro de tudo, matéria forte, dura, orgânica, que resiste e se estilhaça e que é colhida com a humildade do trabalho e o dom da paciência, combate com essas máquinas que escavam sem dó nem piedade e que produzem choques de vibração violentíssima só comparáveis a essa outra máquina já referida e a esse olhar que tudo enfrenta. Combate ainda com a terra como coisa original, combate com muitas coisas mas finalmente com a escuridão. Escuridão feita coisa concreta, palpável, labirinto de perdição e de sustos – perfeita imagem disto são os travellings sobre os carrinhos que esse tal olhar e luta arriscam e que surgem com inaudita urgência. Planos não subjectivos, importa dizer para que não se faça confusões, pois trata-se então de mais uma batalha em que a distância e a imersão só assim podem ser – objectivas, assustadoramente próximas das coisas filmadas e logo do caos, em cima, coladas, num frente-a-frente sem receio algum que tanto põe a nu o processo e a feitura do filme – só nos grandes isto acontece – como nos faz duvidar, como foi possível?  
É preciso insistir e ver bem esses travellings, a objectiva e as lentes a apanharem tudo o que lhes aparece pela frente, a não terem medo do escuro e simultaneamente a tremerem e a vibrarem com a eminência do desconhecido...até ao fundo, fundo do mundo, fundo de tudo...infernos...sem qualquer tipo de virtuosismo ou falso estilo que todo a empreitada recusa liminarmente.

Muito em cima, cerrado, a queimar – e contaram-me que certas lentes foram mesmo queimadas por causa da ousadia – mas logo com a distância, esse grande acto ético e revelador, que se sente e se percepciona – num filme de sensações e percepções inigualáveis – justo, preciso, sem margem para duvidas. Só em cima de tais coisas para se sentirem essas coisas, portentosa técnica de apreensão. Distância bressoniana, assim mesmo, sem provocações. Cinematógrafo iniciático, cinematógrafo bresson. Tudo no enquadramento é atravessado como lâmina ou aqui fogo que rasga, deixa rastro inapagavél, violenta, arde, pasma, fura...assim indiferente à ordem e leis do resto e portanto da ordem do sagrado, essa inexplicável graça. Bressoniano também na magnifica e terrível banda sonora, obsessiva no seu impacto feito do que lá está e no que é provocado pela intervenção do homem nessa natureza - também Straubiano, portanto – sinfonia das trevas mantida em paroxismo, cadência intempestiva e incontrolavelmente modelada como a banda da imagem, espécie de corrida lado a lado com o que acontece inesperadamente a cada momento, que não dispensa a importância e a angustia do silêncio, lição do mestre francês – o silêncio inventou-se quando o som surgiu.
Banda sonora feita do mesmo que a banda imagem: pedras, cascalho, gravilha, martelos, básculas, motores e uma infinitude de invasões tais silêncios adentro.
Em "Wolfram" o som só treme tanto como a terra treme porque nesses instantes dos inícios ou dos fins ou dos espaços vazios ou suspensos dos meios está presente, pressentido ou num contra-campo que de tanto o ser já só é campo e consciência, de um fim a qualquer instante...sem metáforas, da consciência da tragédia.
 
Peça permeável onde se notam as peles, as saliências e as rugosidades do que nos explode no ecrã e no rosto, as veias, ossos e sangue e vísceras, o suor...porque na inteligência com que os corpos e os homens são quase sempre puxados para o espaço of do quadro, para nos dar a experienciar a potência e a vida do que está em causa e logo para nos pôr defronte ao perigo do meio e do trabalho e à sua consequente fatalidade, tudo é tratado e visto e tem o peso incomparável do corpo humano e dessa estrutura única e tão representativa do que pode ser o cinema como coisa total. Um corpo.

Peça de temperaturas, frios e calores elevados, arrepios na espinha e libertações concentracionárias...cheiros, o etéreo e o higienizado inicial para a pressão e a asfixia interior das minas, essa poeira que as narinas ataca..."Wolfram" é no sentido mais directo e físico um filme de câmara porque só por ela e pela sua singularidade, técnica, capacidade de lidar e transcender o real, capacidade de luta, tudo se torna tão bruto, frontal...em primeiro grau.

Como as cores que só longinquamente se deixam ver, tantas das vezes volvidas pura pintura abstracta, coisa rara, pedra preciosa – vai-se tão junto do suposto real que este se diluí noutra coisa. À abstracção só se chega com pulso rijo e leveza ao mesmo tempo, libertação, um pouco de loucura e muito conhecimento das coisas, sem medo de as destruir e as pôr em causa.

João Bénard da Costa escreveu acerca do cinema de Pedro Costa que "o negro é uma cor" e tudo neste filme tende inevitavelmente para aí, esses escurrissimos vermelhos esses escurissimos amarelos, esse nublado que cerca e perfura toda a paleta de cores daqueles lugares, cores fundidas a negro e no negro, negros puros.

Falei em sinfonia, falo em orquestração, nada disto seria assim se os maestros não conduzissem e ordenassem deste modo sábio os elementos recolhidos ao real, forte e delicada batuta que não envereda nas experiências, teorias e gélida ciência de Eisenstein ou de todo o seu legado, essas ditas vanguardas suas contemporâneas ou posteriores que tem sempre algo a provar, mais do lado de Vertov ou do já referido Bresson, ou seja, há que insuflar de coração e de divino aquilo que tende para o maquínico. "Wolfram" tem o fulgor a respiração de uma liturgia.
 
O filme vai sair lá de dentro - depois daquele momento em que o diafragma se fecha ao máximo e o escuro e a cerração são absolutas - já ia saindo por aquelas fitas rolantes, mas ali era só fugaz momento de respiração para não permitir o abafamento, vai sair para manter certos limites vitais...esse abismo buraco negro quase suicida da mise-en-scéne, para um apaziguamento dialéctico, complexo, ambíguo, feito de consciência e memória. Do nocturno interior para o exterior velado, dos flashes luminosos que fulminam e violam o negrume para o alinhamento das casas e o bailado assombroso e assombrado do verde deslavado das árvores, daquela convulsão industrial e terrena das profundezas para a serenidade e para uma paz ameaçada ou em suspenso que o irromper da música final dos mineiros anuncia, dessa tremenda destruição e refracção que alastra pelo todo até a um vislumbre de uma união final dos elementos.

"Wolfram" é simultaneamente um documento arrancado a ferros, um mergulho perigoso e aventureiro num mundo de acesso improvável quase como improvável na lua se filmar, um comovente tributo a um lugar, homens e mulheres que sofreram e que ali deram a vida - um filme para eles. Concreto e fantasmático, luzes sombras e nada, desfile de monstros e suave e tremendo irromper dos mistérios cravados nessas opacidades. Acto de fé. Promessa perdida. Puro cinema. Vida.

quinta-feira, 24 de março de 2011


"The Wings of Eagles", filme de portas que atravessar dói. Filme de regressos impossíveis e enganadores. Filme de todo esse tempo e da destruição inerente. Filme de deslocamentos - nem um lugar nem o outro - e dessa imensa tragédia. Imensa... Paixões amores totais inquestionáveis, paixões amores totais inconciliáveis. Grandeza e contradição. Verdade que tudo redime. Solidão e...comoção. O Homem. John Ford.