segunda-feira, 19 de outubro de 2009


Pode ser que Leos Carax tenha querido mandar foder o "pessoal do cinema" e a indústria que tanto lhe tem feito a vida negra. Pode ser que a coisa seja mesmo séria, posição chamada irónica/mordaz e parábola do ar do tempo ou do fim dos tempos, e, que então, o arrepio sentido na espinha aquando do primeiro longo travelling por Tokyo, ou na sequência das granadas e dos corpos desfeitos, tenha razão de ser. Ou então é tudo isto e uma infinitude mais, como em todas as obras que interessam. De qualquer forma a irrisão está carregada, carregadíssima, de gravidade. "Merde" é facilmente um dos filmes mais delirantes, loucos e inauditos da década. Livre e sem resquício de medo. Ao mesmo tempo é como os seus filmes anteriores – tragédia, ficção científica, fantástico, musical, na volta, até história de amor, etc. É Carax a pensar Méliès, Murnau, o esplendor do cinema clássico americano, Welles, Godard, Tarantino, a maneira estúpida e falsa como os novos materiais e as novas técnicas tem sido usadas nos últimos largos tempos, etc…É Carax, pela sua posição, rigor e veemência, a conquistar o direito de ir até ao fim do mundo, ao exemplo de Agnes, são as margens a desmultiplicarem-se ao infinito para o centro surgir como lúcido e lógico. Lúcido e ao mesmo tempo feericamente irracional, “Merde” é capaz de ser o supra sumo da arte de Carax.

4 comentários:

Jesús Cortés disse...

Y es también una prueba de que "Le testament du Dr cordelier" sigue vivo

AEA Produção disse...

MERDE.
Ainda nao vi

João disse...

Adorei este, e a tua análise é muito boa!

Posso "rouba-la"? com devida identificação, é claro

José Oliveira disse...

Obrigado João.

Rouba o que quiseres, sempre.

Abraço.