Há
nuvens negras que se deslocam apressadamente para o sul
há
filas de canas que oscilam e fazem ao vento a elegante reverência da vassalagem.
ou
pelo menos da boa educação tudo se anima vibra soa na noite
O
vento vai vencendo obstáculos dispõe cada vez de maior espaço
anexa
pela violência territórios que ainda há pouco lhe opunham certa resistência
ensaia
agora a sua vastíssima valsa na ampla sala da noite
canta
uiva produz esse inimitável som impossível de procurar nas páginas dos
dicionários
afina
a voz para as mais agudas notas do seu canto dilacerador e íntimo
Virá
o dia muitos corpos afastarão finalmente da fronte os últimos véus do sono
muitos
olhos procurarão a luz sentirei mais minhas as pontas dos pés
o
canto quezilento e quebradiço dos pássaros no pátio nas árvores nos beirais
disputará
o lugar à voz do vento nos meus ouvidos
Voltarão
primeiro um por um depois em bandos os cuidados
as
pontas dos cabelos compridos de mulheres jovens entrar-me-ão para a boca
mas
é provável é mesmo muito provável que algures nalguma parte profunda e
perdida
do meu corpo
continue
vazia arejada e arrumada com o pó limpo uma sala exclusivamente reservada à
única pessoa verdadeiramente importante
até
que um dia eu para sempre me veja disperso no vento e não passe
talvez
de um secundaríssimo instrumento na complexa e simples orquestra do
vento
RB
RB
1 comentário:
Ruy Belo - Em Louvor do Vento
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