Bruno Andrade, sobre Pedro Costa e o "contemporâneo" (arrancado a um não-lugar do facebook):
"o lance com o diaz é o seguinte:
onde
o costa é um dos cineastas mais concisos, mais precisos, um relojoeiro
(tourneur, ozu e warhol não são as referências capitais dele à toa);
onde cada plano é um bloco compacto de coordenadas que funcionam de
forma inequívoca e sempre de acordo com as circunstâncias determinadas
pela geometria local daquele plano, daquele recorte específico do
espaço; onde o acidental e tudo o que irradia, se espalha e se assenta
como sinais de vida no espaço da tela (ênfase no "da tela": nessas duas
palavrinhas consta TUDO o que separa costa do diaz) são frutos da maior
contenção (se o costa fosse um romancista ele seria com certeza proust);
onde essa contenção forma cristais que dão uma impressão muito
autêntica de autonomia (devido à força de sua composição, à compressão
material que a técnica do costa tem como finalidade, o filme vai se
suprimindo na medida em que vai se inventando) mas que funcionam numa
fluência, numa continuidade emocional (que, provindo de cristais, não
tem como não ser cristalina) que não se vê desde, sei lá, os noirs do
losey, os faroestes do boetticher, os policiais do fleischer; onde no
costa há TUDO ISSO no diaz há apenas: vácuo, uma distância complacente,
safa (não existe cinema menos distanciado que o do costa, e quem fala em
distanciamento a respeito da técnica dele não entendeu uma vírgula),
uma série de procedimentos que o filme não faz mais que redundar e
tarimbar para cinéfilos, cineastas e críticos advertidos pelas revistas
especializadas
é um cinema feito para dar o que falar, mas que existe concretamente muito pouco ou quase nada na tela
ou seja, um exemplo crasso do que conveniente e complacentemente é catalogado por aí como cinema contemporâneo"
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