segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Bruno Andrade, sobre Pedro Costa e o "contemporâneo" (arrancado a um não-lugar do facebook):


"o lance com o diaz é o seguinte:

onde o costa é um dos cineastas mais concisos, mais precisos, um relojoeiro (tourneur, ozu e warhol não são as referências capitais dele à toa); onde cada plano é um bloco compacto de coordenadas que funcionam de forma inequívoca e sempre de acordo com as circunstâncias determinadas pela geometria local daquele plano, daquele recorte específico do espaço; onde o acidental e tudo o que irradia, se espalha e se assenta como sinais de vida no espaço da tela (ênfase no "da tela": nessas duas palavrinhas consta TUDO o que separa costa do diaz) são frutos da maior contenção (se o costa fosse um romancista ele seria com certeza proust); onde essa contenção forma cristais que dão uma impressão muito autêntica de autonomia (devido à força de sua composição, à compressão material que a técnica do costa tem como finalidade, o filme vai se suprimindo na medida em que vai se inventando) mas que funcionam numa fluência, numa continuidade emocional (que, provindo de cristais, não tem como não ser cristalina) que não se vê desde, sei lá, os noirs do losey, os faroestes do boetticher, os policiais do fleischer; onde no costa há TUDO ISSO no diaz há apenas: vácuo, uma distância complacente, safa (não existe cinema menos distanciado que o do costa, e quem fala em distanciamento a respeito da técnica dele não entendeu uma vírgula), uma série de procedimentos que o filme não faz mais que redundar e tarimbar para cinéfilos, cineastas e críticos advertidos pelas revistas especializadas

é um cinema feito para dar o que falar, mas que existe concretamente muito pouco ou quase nada na tela

ou seja, um exemplo crasso do que conveniente e complacentemente é catalogado por aí como cinema contemporâneo"

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