“Sayonara”, que quer dizer Adeus,
foi transformado num princípio em 1957 por Marlon Brando, Miiko Taka
e Joshua Logan; e mais ainda pelo casal que enlaça no final branco e
primordial de “Os Amantes Crucificados” de Kenji Mizoguchi,
amantes vividos por Red Buttons e Miyoshi Umeki terrenamente até à
cena virginal e doce em que Brando os encontra já para lá da sempre
redutora beleza terrestre; alguns ou muitos de nós não chegarão a
conhecer tal passagem, pois que com ou sem metafísica nunca se deram
assim; nunca passaram certa fronteira... e “fronteira” é a
palavra e cerne deste filme que é uma empreitada por amor à
humanidade e ao básico.
“Sayonara” deveria ser projectado
num ecrã tão grande e simples e evidente que abarcasse todos os
continentes para uma união óbvia.
Tudo neste filme é belo pois derruba
com a beleza mais simples as correntes das leis mais avançadas; é
Brando a começar a bater com a sua cabeça e com o seu corpo em tudo
o que é décor e forma (e espírito) Japonês; é a sua única amada
a cair na poça da cultura e da herança (e da bruteza); e,
devagarinho, lentamente, como as águas onde se lavam os panos sem
fim ou como o vento que bate nas flores de cerejeira etéreas, ele
começa a dominar o espaço e a perceber o tempo alheio, a saber que
os meios e o caminho podem ser tão ou mais importante do que os
fins; e ela, surgindo tão impassível e zen como a imagem mais
acabada do sol nascente, torna-se lacónica, cuspe verdades, quase ou
até selvática sem conta, rompe e explode.
Brando admira e chora pelas rochas
amantes e torna-se Japonês. Miiko Taka percebe desde os primeiros
olhares envergonhados de namoradinhos de escola que até yankees
podem ter toda a plenitude solar, e torna-se Americana. Mas chegar só
a esta conclusão é alinhar no que “Sayonara” derruba, que é
aquilo que eles confessam tão simplesmente, tão basicamente, tão
preto no branco e sem margem para dúvidas, envergonhando a Sociedade
com S maiúsculo imposto a sangue: cada um é um mesmo de onde
Família e Tradição e Esperado e País terá de se renovar
constantemente pela verdade, pelo amor, pela justeza, pelo olhar
inocente de namoradinhos do pátio proibido da infância.
E no final formam um com a
individualidade intacta, a revolução e o regresso à fonte
inaugural. “Sayonara” está num acreditar e num limbo para lá ou
para cá de todas as convenções; do actors studio feito para
cada qual e sem marca até ao ritualismo sem império; simplismo -
fatalismo (o belo simplismo, a bela irresponsabilidade), como Ford ou Kazan a dialogar abertamente com Mizoguchi ou Ozu. No
ocaso, sayonara, adeus, tudo de novo.
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