The Pride of the Yankees, de Sam Wood, 1942
Sobre Lou Gehrig e a fascinação fora de tempo pelos heróis
que nos formaram na primeira idade, John
Fante, o poeta da bruteza do quotidiano e das rotinas mas também o mais terno
irmão que nunca conhecemos, escreveu em 1933 was a Bad Year:
«Quando cheguei, o Ken não estava lá. Vesti o fato de
treino, calcei as sapatilhas e fiz os alongamentos num banco no balneário,
enquanto esperava por ele. As janelas da cave ficavam ao nível da rua e
conseguia ver a neve a cair no passeio e as pernas dos transeuntes a caminhar a
custo pela recente borrasca.
Era uma boa altura para mim, a melhor parte do Inverno,
aquelas tardes passadas com o Ken Parrish. Ele era finalista na secundária de
Roper, e o meu melhor amigo. O que nos fazia levantar de manhã era o basebol. O
Ken tinha regressado a Roper após ter sido expulso de duas escolas
preparatórias do Leste, não por tirar más notas, mas por fazer gazeta para ir
assistir a partidas de basebol no Fenway Park, em Boston.
O ídolo dele era o Lou Gehrig dos Yankees. Tinha três tacos
partidos do Gehrig e um penso com o sangue coagulado e pêlos do seu polegar
colados. O que aconteceu foi isto: certa tarde, estava o Kenny sentado atrás do
banco de suplentes dos Yankees, quando viu o Lou Gehrig arrancar o adesivo do
polegar e atirá-lo para junto da primeira base. O Ken desatou a correr pela
bancada, saltou a barreira para o recinto de jogo, e apanhou o penso do relvado
enquanto dois porteiros o agarraram pelo pescoço. Expulsaram-no do parque, mas
o Ken ficou com a sua recordação e não se importou.
No final do jogo, manteve-se por perto dos balneários dos
Yankees até o Gehrig sair. O Ken pediu ao grande Lou para lhe autografar o
penso e este fê-lo com a sua própria caneta de tinta permanente. Esse penso
ensanguentado estava agora pendurado numa moldura na parede do quarto do Ken.
Ele tinha a certeza de que um dia valeria imenso dinheiro, mas eu tinha as
minhas dúvidas. Os velhos jogadores de basebol caem rapidamente no
esquecimento.»
O livro foi postumamente publicado em 1985, mas já nos anos
40 se tinha prestado uma bela homenagem a esse ídolo das massas que chegou a
rivalizar com Babe Ruth, no The Pride of the Yankees de Sam Wood. Ídolo
das massas e coração ternurento, visão luminosa em movimentos radiantes,
portador de dádivas gloriosas que cativaram milhões, simples beleza e simples
emoção que todos compreendiam, deixando de um momento para o outro de conseguir
praticar a sua grande paixão, morrendo precocemente e deixando em lágrimas
tantas famílias e tantos desamparados.
Sobre corpos celestes assim terrenos e em fusão com o outro
mais anónimo, encontro de almas sem tempo nem espaço, Walt Whitman, um dos
cantores capitais do desporto americano por excelência e logo um dos seus
inventores espirituais, escreveu: «Do I contradict myself? Very well, then I
contradict myself, I am large, I contain multitudes.»
Disponível no My Two Thousand Movies: https://mytwothousandmovies.blogspot.com/2019/07/o-idolo-do-publico-pride-of-yankees-1942.html
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