sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

De Bryan Singer posso dizer que nem concordo com Vincent Malausa («Artisan trois étoiles…»), pois se eu fosse critico – fico feliz por não o ser – daria ao seu filme anterior a chamada bola preta.

Em frente, “Valkyrie” é um grata surpresa, um relato praticamente gélido, directo e sem qualquer tipo de ganga – visual, narrativa – de um daqueles acontecimentos que à primeira vista nem dá muito para acreditar. Sem nenhum tipo de sentimentalismo, sem nenhuma pompa, right to the point. Notável a maneira como Singer manda às urtigas qualquer espécie de simplismo/maniqueísmo, para seguir numa direcção e num olhar que tem muito a ver com o de Clint Eastwood no “Letters from Iwo Jima” (guardadas todas as distâncias). Dir-se-ia que é um filme feito por um alemão, preocupado em mostrar que nem todos os membros do poder, naquele tempo específico que o filme trata, estavam ao lado de Hitler e concordavam com as suas ideias. Mas não, é feito por tipos de Hollywood, e, assim mesmo, é complexo e preocupado em mostrar homens e motivações, antes de mitos e de ideias feitas. Dá para calar muita gente. E se este confronto de forças brutas, de homens máquinas, é captado com uma distância implacável e com uma secura incorruptível, outro dos trunfos é o modo como o cineasta domina todas as potências do falso, no sentido mais imediatamente visível, desde a ausência de sotaques manhosos, passando pelo corpo mutilado da personagem de Cruise, até toda uma envolvência atmosférica e a composições de quadro que incrivelmente remetem mais para o passado do cineasta do que para qualquer convenção de “filme de guerra”. Isto, elididos todos os excessos. O resto é feito como nos tempos clássicos, das maquetas – aquilo é o poiso do Hitler e é mesmo, eu não faço mais perguntas. Acho que é esta dialéctica e esta ambiguidade que mais me interessa no todo. De resto é um divertimento inolvidável, carregado de planos surpreendentes e montado de maneira quase cientifica no que diz respeito à exploração e criação do suspense e da tensão.

Ahh
, e para os espertinhos, Tom Cruise parte a louça toda – prodígio de contenção e de sangue frio – e mostra que gente como Kubrick, De Palma, Scorsese, etc. não se enganaram.

*Dito isto, é o máximo que se pode fazer (ou quase, vá lá…) quando não se é Lang ou Carpenter, e é muito.

2 comentários:

Unknown disse...

He pá, não sei, uma pessoa pensa no 'Man Hunt', e este parece muito certinho, muito normalzinho...

José Oliveira disse...

"é o máximo que se pode fazer (ou quase, vá lá…) quando não se é Lang ou Carpenter, e é muito."

exacto, concordo absolutamente.