terça-feira, 22 de maio de 2012

"o cinema não pede desculpas por ser o que é"


Não é que "Tabu" 2012 me tenha ofendido, mas não achei nada, mesmo nada, de especial, então:

- um artesão talentoso do clássico, e porque não da RKO, despacharia a primeira parte do filme de Miguel Gomes em 5 minutos, quanto à segunda, passada em África, bastariam uns 10. 

- o que se ganha com o "moderno" e consequente distensão temporal: nada que eu tenha sentido como densidade ou peso, algo que mexa para lá do arrastamento.

- e tendo em conta a frase em epígrafe - proferida por um amigo meu e que logo me iluminou aquando da frieza e inocuidade que o filme posteriormente alastrou em mim - este Tabu 2012 dá-me constantemente a sensação de saber demais em relação ao que se mostra e se conta, algo viciado, que se chora nas suas impossibilidades ao invés de agarrá-las pelos cornos e fazer abanar realmente coisas para além dos variadíssimos filtros, protecções, esquemas, e lamento dizer, certas espertezas. 

- anedótico seria falar em Munau, como também não valeria a pena falar em Rouch ou Herzog, pessoal que foi à selva na verdadeira acepção perigosa ou romântica da palavra. Por isso os momentos de que eu gosto no filme de Gomes são aqueles pequenos intimismos quando ele parece fugir de todos os conceitos, mesmo da entourage um pouco circense que o rodeia e ficar com o rapaz e a rapariga e sonhos calorosos de granulado preto e branco. Aí os corpos e a pelicula são capazes de suar e alguma coisa me toca...

- ...mas rapidamente algo me leva a outra frase do mesmo amigo sobre um antigo filme de Cottafavi: "Veja aí como na pré-história da tv estatal italiana o Cotta já estava fundando toda a léxica do mais refinado e luxuoso cinema moderno europeu paupérrimo, o verdadeiro cinema herdeiro do filme B - Moullet, Oliveira, Ruiz...". Ou seja, nesse incomensurável mundo onde se instala a narrativa e a câmara de Tabu, não deixa de ser triste a banalidade como tais colossos se expressam e surgem na tela; a mística lengalenga de pacotilha mais do que retrabalhada da voz-off que está sempre muito por cima das personagens e das paixões, retribuindo-lhes muito pouco do protagonismo que para si conserva; a forma como o largo final se arrasta entre planos de enchimento, sons de campo e sons do estúdio que só expõe o regabofe do projecto, ou seja, uma manta de retalhos que caucionada por um humor muito deste tempo, completamente Nicolau e jamais João César, pede a tantos momentos desculpa por não ser o que desejaria e sim um sucedâneo cómico dos ardores queimantes e lúgubres de Camilo a Oliveira. Ao invés das anátemas que tanto ensaia, fica assim algo de tragediazinha composta por todos os aparatos que se supõe e se confirmam, precisamente, "modernos"...e assim a comunidade internacional do meio vê confirmados os seus pressupostos e condições de admissão...

1 comentário:

Antoine disse...

Olé, bravo, derroquemos los bluffs, los cineastas conceptos que se vayan al museo con Duchamp. Nosotros queremos seguir creyendo en el CINÉMA.
Nicolaus, Gomes, Serras, lo sapete che san Luigi piange quando vi toccate?