Um qualquer still de um qualquer velhinho
documentário piscatório? Nada disso, sim a longuíssima quebra do ritmo e da
invisibilidade clássica que qualquer especialista denotaria no extraordinário e
terrífico “Tiger Shark”, do storyteller Howard Hawks. Isolada, essa sequência, seria
uma limpinha e detalhada demonstração de um ofício e de uma coragem, da força
dos homens em situações puxadas. Integrada e montada nessa corrente de amores,
traições e recalcamentos entre Portugueses e outros em San Diego, na América, é
um dos exemplares mais potentes e agudos da amizade masculina a toda a prova,
para os quais a mulher é mais elemento perturbador do que verdadeira paixão de
qualquer um deles. Nada de segundas intenções ou flores de estufa, sempre a
quimera dos afectos em mundos corrompidos. E entre mãos de gancho, fúrias que
escondem verdades essenciais e a tragédia escrita nos altos, não se pode fugir
a sete pés da evidência ou obscuridade para que me alertou João Bénard da Costa
- o lado Hemingway normalmente colado a Hawks, esse lado insinuante, alegórico
e prazeroso mais “Hatari!”, vai negramente cedendo passo, desde a abertura nas
águas profundas, ao lado Faulkner que chegaria mais tarde na sua obra mas nunca
tão fatal como aqui; e ao lado Melville do espezinhamento interior e de
revoltas forças estralhaçadoras e não circundáveis. Por danadas coisas destas, uma
paroxística tragédia que lá nos meios é urdida por uma portuguesa missa que é
então um português fado, encontra-se mais esquecida do que o “Billy Budd”.
Peçam-me um top 3 deste incomparável e eu ponho lá o “Tiger Shark”, sem
problemas de consciência. Aquele workshop de dez minutos de que vos falei ao início
não bazam por nada da memória…em 1932, e na sua terceira obra-prima desse ano,
Hawks continuava a ir de cabeça à natureza do que via à frente.
Dedicados às secções oficiais de quase todos os
festivais de cinema do real. A esses que procuram toda uma vida, filmando
milhões de horas e captando todo o som, o que HH conseguiu naturalmente, sem
foguetes ou blá blá, em mais um trabalhito para pagar a renda. Ou então, de
coração, ao Joaquim Pinto ou aos estoicos da praia da Apúlia que nos seus
limites tantos consolos proporcionam.
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