Entrei para a sala desconfiado, isto porque os anos 70 do cinema americano são para mim fundamentais e tocam-me particularmente, e até no cartaz se notava que o filme tinha cheiro desse tempo.
É evidente que é Tony Gilroy virado para o cinema liberal e politico do anos 70, cinema rude e de denúncia.
Também logo fica evidenciado que não estamos inseridos nos fulgores do cinema de Pakula – que parece ser tanto a referência deste argumentista, agora virado realizador, como de Fincher ou algumas coisas de Soderbergh – disto isto, Michael Clayton é um óptimo filme, útil e cheio de grandes interpretações.
A forma como Gilroy dispersa o argumento, não evidenciando muita coisa, existem mesmo umas elipses narrativas interessantíssimas, mantém uma carga de tensão e suspense até ao fim - as confusões e mistérios empresariais a funcionar como catalizador narrativo e formal.
E se Clooney tem muitos méritos, não só passa o filme todo com um ar cansadíssimo, homem abatido á espera de sair do aprisionamento (o papel de produtor executivo também é de ressalvar), espécie de um dos últimos clássicos, um Cary Grant desencantado, e se Wilkinson está perfeito no homem desequilibrado e fora de controle que finalmente caí em si, quanto a mim é Tilda Swinton o melhor do filme.
Notável a maneira como encarna a mulher fria, de aço, com uma mascara que tudo esconde, esfíngica, no meio do caos.
De resto, fotografia fria e triste como os propósitos, do grande Elswitt, sim o mesmo que trabalha com P.T.A, uma montagem que sabe lidar bem com as durações dramáticas, e que nunca se evidencia ou se deixa atabalhoar como acontecia no horrível Syriana.
É o contrário desse filme, muito mais seco e sem os maneirismos manipulativos e exibicionistas.
Nada de obra-prima, falta os abismos absolutos de um filme como "Parallax View" por exemplo, mas um muito bom filme
Sem comentários:
Enviar um comentário