domingo, 14 de setembro de 2008

E o que um cineasta francês como Guiraudie prova também cabalmente, é que os ditos cinéfilos de hoje em dia, ou seja, os leitores da premiere e os estudantes de cinema embasbacados pela N.V cristalizada (e isto é o máximo), nada mais procuram saber, nada mais têm interesse em descobrir, do que esses produtos – a maior parte, ou aberrações ou objectos inertes – que aquela distribuidora que em tempos estreou Straub/Huillet nas mesmas salas hoje lá espeta.

Há excepções em ambas as partes? Claro, as pouquíssimas que confirmam a regra.

2 comentários:

DoxDoxDox disse...

Qual é o sentido, afinal, de discutir-se o perfil ideal do "cinéfilo contemporâneo"?
A que se chega, por aí?
O que interessa, afinal, não é que se gosta de cinema? Para quê cruzar fogos de insultos entre pessoas que gostam de cinema, com o rótulo dos estilos/décadas cinematográficas que mais apreciam?
O Cinema ganha alguma coisa com isso?
Fazem-se mais filmes?
Chegam-se a conclusões cósmicas sobre o sentido do Cinema, de toda a arte, de toda a vida, de toda a criação?
O que é que interessa a alguém que gosta de cinema o que é o que os outros andam a ver, se a pessoa andar a ver o que pessoalmente lhe interessa?
Porque é que alguém se há-de sentir injustiçado porque qualquer outro se auto-denominar cinéfilo também?
Será que eu sou mais portuguesa se souber o Hino e tiver lido os Lusíadas do que alguém que não saiba?
Ou será que gosto mais de azul porque ando todos os dias espampanante e vestida de azul do que qualquer outra pessoa que, também dizendo gostar, não o demonstre assim?

Na sequência deste post, só se espera que concretizes essas hierarquias da cinefilia que traçaste mentalmente. Quero saber quais são os direitos cinéfilos respectivos ao estrato que ocupo na pirâmide feudal...

Anónimo disse...

O problema se dá quando se trata de uma arte como o cinema, que custa muito para fazer e muito para lançar e distribuir. E então, quando há um monopólio sobre essa arte, por aqueles que não primam pelas qualidades desta, mas por qualquer outra coisa que os possa satisfazer - e que podem encontrar em outros cantos com facilidade - devemos nos rebelar e gritar em uníssono, nós que prezamos e amamos esta arte, a fim de defender algo que desejamos manter vivo. O cinema que talvez você defenda, não corre risco de extinção. Somos apenas rigorosos, e assim como na política há este cruzar de fogos necessários (saudáveis quando se há algo além do agonizante, algo vivo, que luta e almeja o melhor), ou na literatura (imagine apenas livros de auto-ajuda disponíveis, que terror!), na culinária (pois se quiserem servir bosta, tem o direito de comer, e eu tenho o direito de pedir algo de meu gosto, nadando contra a corrente da uniformização), há no cinema também a exigência, ferramenta própria do bom-gosto. Aos apreciadores de vinho chamo aqueles que realmente gostam, degustam, apreciam as nuanças e texturas, o cheiro e o sabor, a consistência. Aos que apenas bebem para se embriagar, ou engolem qualquer coisa para satisfazer um desejo primário e sem rigor, não chamo de apreciador de vinho, não poderia fazer isso.
Assim o é com os cinéfilos, igualmente.